Kelly comanda um Learjet 600 e quer aprender a pilotar helicóptero
O céu sempre foi o limite para Kelly Correia, 32 anos. Desde criança, ele habitava seu imaginário e despertava o desejo da conquista. Para ela, não existia nada mais fascinante que voar. Kelly queria ser piloto de avião, mas, como muitos diziam, era um sonho impossível para uma menina.
Impossível? Que nada! Hoje, após dez anos de formada, a comandante Kelly Correia traz na 'bagagem' 1,6 mil horas de voos nacionais e internacionais, histórias de superação e muitas vitórias. "Desde criança olhava para o céu e queria ser piloto. Não foi fácil, mas venci! Valeu à pena!", garante ela, entre risos.
Kelly conta que, a princípio, os pais não a apoiaram e achavam uma grande loucura a sua escolha, inclusive tentaram de todas as formas convencê-la a desistir do sonho. "Fizeram uma reunião lá em casa, com toda a família, para ver quem conseguia me convencer a desistir de ser piloto. Não deu certo", diz.
Aos 18 anos, mesmo sem o apoio da família e sem condições financeiras para arcar com o custo do curso, a jovem sonhadora saiu de casa, em Maceió, capital de Alagoas, e partiu de ônibus para São Paulo, mais precisamente para Araraquara, onde deu início a sua trajetória profissional.
"O curso era muito caro, não tinha condições de pagar. Um dia, minha mãe foi fazer um passeio em Caldas do Jorro, aqui na Bahia, sabe? E passou em uma cidade chamada Tracupá, viu um monte de sandálias, me ligou e perguntou se eu queria para vender. Nem pensei: pedi que comprasse 10 sacos, cada um tinha 600 pares. Vendi tudo em um mês", lembra Kelly, explicando como fez para juntar dinheiro para realizar o sonho de infância.
O preconceito
Atualmente, Kelly se diz realizada e muito feliz com a escolha. No entanto, nem sempre foi assim. Em um universo dominado, em sua maioria, por homens, ela encontrou muitas barreiras e teve que conviver com o preconceito. "Pensei muitas vezes em desistir. É muito preconceito que a gente passa. Tive que aprender a ser descolada para sobreviver no meio deles. Mas valeu à pena", reitera.
Passado as dificuldades, ela revela, bem humorada, que em seu primeiro emprego foi obrigada a mentir e dizer que era lésbica. "Tive que falar isso para a mulher do chefe. Disse: 'Não quero nada com ele, mas com a senhora... '", relembrou, afirmando ter sido demitida tempos depois, após a esposa do chefe descobrir que ela era casada com um homem.
Outra cena de preconceito não sai da cabeça da jovem piloto. Kelly lembra quando uma cliente exigiu que ela saísse do avião afirmando não aceitaria voar sob seu comando. Na época, ela trabalhava em uma empresa de táxi Aéreo.
O sonho
Piloto de avião executivo - um Learjet 600 -, Kelly ainda não se sente totalmente realizada e diz que seu próximo passo é fazer um curso para pilotar helicóptero, assim como o marido, a quem ela define como sendo um grande parceiro e incentivador.
Outro sonho que permeia os pensamentos da piloto é o da maternidade, mas este, por enquanto, somente daqui a quatro anos, quando, segundo ela, sua vida estará estabilizada. "A aviação, neste momento, é minha prioridade, é o que vai me ajudar a dar uma vida melhor aos meus filhos", avalia.