Míriam Hermes | Fotos: Miriam Hermes | Ag. A TARDE e Dircom Barreiras | Divulgação
Fundação regenera natureza e já reavivou oito nascentes
Os primeiros quatro anos de criação da Fundação Mundo Lindo foram comemorados com a entrega do Espaço Cerrado Cultural Professora Veridiana, da Escola de Ecologia Ana Linda e o Anfiteatro Índio Raoni Kiriri. A programação prossegue com uma série de eventos artísticos e culturais que movimentam o local nos próximos finais de semana.
Localizada a 21 km de Barreiras (858 km de Salvador) a fundação é um projeto de regeneração e conservação da natureza com a valorização das comunidades tradicionais, fomento à pesquisa, divulgação de conhecimentos e incentivo a um modelo de vivência sustentável.
Na Secretaria Municipal de Meio Ambiente tramita um processo para que a área seja reconhecida como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). "É um modelo de unidade de conservação que tem o aval do proprietário", segundo o titular da pasta, Demóstenes Junior, ressaltando que os responsáveis se comprometem em preservar o ambiente com ocupação sustentável.
Concebido há mais de 20 anos, o projeto tomou forma com a aquisição de cinco propriedades que hoje somam uma área de 300 hectares entre a margem do rio de Ondas e a Serra do Ouro, no Vale do Rio de Ondas, com mais de 25 km de trilhas e uma grande vereda formada por dezenas de nascentes.
De acordo com o empresário Deusdete Sousa Santiago, idealizador e principal figura da fundação, quando adquiriu as propriedades alguns trechos estavam degradados pelo uso intensivo para pecuária.
Para reabilitar a flora e atrair a fauna foi implantado, com parceria da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), um Centro de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (Crad), que já concluiu sua função, persistindo a estrutura de produção de mudas nativas do cerrado. Entre os resultados obtidos ele comemora que oito nascentes foram reavivadas.
"Tudo começou (o projeto) com a constatação de que o modelo de ocupação na maior parte do planeta é insustentável e que é preciso agir para transformar a realidade ao nosso redor", afirmou, destacando que o progresso é legítimo, tanto quanto a necessidade de consciência ecológica com foco na conservação dos recursos naturais.
Neste período, mais de quatro mil alunos já passaram pela reserva ecológica, "que serviu de referência para produção de 40 monografias, 12 dissertações e dois mestrados de estudantes das principais universidades instaladas em Barreiras", disse orgulhoso ao descrever os primeiros resultados do projeto, o envolvimento do núcleo familiar e comprometimento de parceiros.
Projeto tem como meta dar apoio aos espaços dos Kiriris
Demóstenes Junior, ao lado de Deusdete Santiago, com os Kiriris da região oeste (Dircom Barreiras | Divulgação)
“Eu não tinha ideia de como é uma vereda. Fiquei encantada com tudo que vi e aprendi”, disse a estudante do Colégio Costa Borges, Anna Clara Ferreira, 12 anos. Ela esteve na unidade com a família e é um dos alvos da fundação.
“Porque a partir deste contato com a realidade regional, os estudantes (e outros visitantes) passam a ter outra percepção do bioma e se sentem mais próximos e responsáveis”, defendeu Deusdete Santiago.
“Se juntos pudemos destruir, somente juntos poderes salvar a natureza”, resumiu ele, que vive exclusivamente para o projeto, depois que passou a direção dos negócios aos três filhos.
Sinais da natureza
Natural de Iguaí e há 40 anos em Barreiras, ele disse que é preciso ensinar as pessoas a perceberem os sinais da natureza e optarem por um modo de vida mais consciente.
A fundação é parceira, entre outros projetos, do programa Frutos do Cerrado, desenvolvido pela Faculdade São Francisco de Barreiras (Fasb) e a Ufob, com recursos através de edital da Fundação Cargill.
O foco é estudar os frutos do bioma na região e preparar pessoas de comunidades tradicionais para o aproveitamento dos frutos em receitas, agregando valor à produção extrativista e gerando renda, com envolvimento de 25 comunidades.
No espaço do receptivo, denominado Cerrado Cultural, visitantes encontram pratos típicos da região, alguns já tradicionais, outros desenvolvidos dentro do projeto.
Os responsáveis são moradores vizinhos da propriedade, que participaram dos cursos preparatórios.
Com uma lista de ações já concretizadas, a fundação tem como meta principal para os próximos três anos o apoio à regularização dos índios Kiriris em Barreiras.
A ideia é investir no fomento à educação superior e à profissionalização dos indígenas.