Adriano de Jesus e Ana Caminha organizam homenagens da comunidade da Gamboa de Baixo para a Rainha do Mar | Foto: Moisés A. Neuma | Divulgação
Sem a tradicional Festa de Iemanjá, celebrada no dia 2 de fevereiro, os devotos estão reinventando as formas para prestar homenagens à Rainha do Mar. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a prefeitura de Salvador cancelou o principal evento da cidade no bairro do Rio Vermelho e determinou restrições comerciais na região.
Na comunidade da Gamboa de Baixo também não haverá a festa realizada anualmente. “O que era apenas uma homenagem dos pescadores tomou uma proporção muito representativa para a comunidade”, afirma a pedagoga Ana Caminha, 47 anos, presidente da Associação de Moradores da Gamboa de Baixo.
Mesmo com a pandemia, Ana conta que o presente não deixará de ser entregue, mas ganhará novo formato. “Estamos nos organizando para fazer nossos agradecimentos, mas o presente será algo mais interno da nossa comunidade pesqueira e comunidade da Gamboa”. Com uma programação mais enxuta, as homenagens contarão com uma alvorada e entrega do presente no mar. Para a mameto de inquice Laura Borges, 43 anos, do Terreiro Unzó Maiala, localizado no Garcia, o momento exige cautela. “Precisamos continuar respeitando a natureza. Orixá é natureza. Podemos fazer nossas oferendas, mas respeitando o momento”.
Laura, que pretende levar suas oferendas já no dia 1º, explica ainda que os fiéis podem levar as suas preces de outras formas. “Temos do primeiro ao último dia de fevereiro para colocar flores e ofertas para a rainha”.
Para este ano, os pedidos para a sereia não poderiam ser diferentes. “O principal pedido para todos os santos neste período é pelo fim dessa pandemia. Pedimos também pela resistência da comunidade e que venham mais peixes”, disse Ana Caminha.
Inspiração
A devoção por Iemanjá também está presente nas obras de diversos artistas baianos. Exemplo disso são as peças criadas pelo ilustrador Tarcio Vasconcelos, 33 anos, que retrata em seus desenhos manifestações religiosas como a festa do dois de fevereiro, a Lavagem do Bonfim, os orixás e suas ferramentas. “Iemanjá sempre esteve ligado ao meu trabalho e minha vida pessoal. Geralmente é o primeiro orixá que a gente conhece, pela sua popularidade e pelo seu encanto. Meu primeiro grande trabalho foi a partir de uma estampa relacionada a ela para uma série de televisão e com a repercussão positiva, prometi que sempre faria trabalhos envolvendo esta senhora”, conta.
Devoto de Iemanjá, também por influências do seu pai, Tarcio V, como é conhecido, afirma que a comercialização das camisas com a temática do orixá é uma das mais procuradas. “Muitas pessoas que me seguem nas redes sociais vêm para o 2 de Fevereiro. Geralmente na festa sempre encontro meus trabalhos estampados. A camisa é um método de guerrilha de difusão do meu trabalho”, diz.
Todos os anos, Tarcio pinta um mural em homenagem à Iemanjá, em algum bairro da cidade, porém na última quarta-feira, não realizou a intervenção pensada para a Biblioteca Juracy Magalhães, no Rio Vermelho, por não ter conseguido autorização.
O artista afirma que tentou entrar em contato com a Fundação Pedro Calmon, administradora do prédio, mas não obteve sucesso. Em nota, a Fundação Pedro Calmon afirma que o artista não procurou ou consultou a instituição para realizar a pintura e diz ainda que, por ser um prédio público, é necessária a apresentação de uma proposta para um possível trabalho artístico.
A Rainha do Mar também é inspiração de uma das mais conhecidas obras do artista plástico Ray Vianna, 59 anos, o dorso de peixe, intitulado como “Odoyá”, no Rio Vermelho. “A melhor parte de ter feito essa obra, é saber que a cidade se apoderou deste presente. Um presente que eu tive o prazer de fazer em 2008, e que as pessoas se relacionam com ela de forma muito forte”.
Vianna, desde a inauguração da peça, tem o hábito de lavar a escultura para a festa. A ação reúne parentes e amigos do artista, entretanto, este ano, a “Lavagem da Odoyá” será realizada apenas por sua equipe. “Iemanjá e Salvador merecem”.
