Luiz Felipe Fernandez (C) e Tuan Duberg (D) entendem que greve é 'mal necessário'
Após sete rodadas de negociações, os sindicatos patronal (Sinepe) e dos professores (Sinpro) da rede privada não chegaram a um acordo com relação ao reajuste salarial. Isto tem preocupado pais e, sobretudo, alunos. Uma eventual greve prejudicaria ainda mais o apertado calendário escolar, que foi interrompido durante da Copa do Mundo, disputada entre 12 de junho e 13 de julho.
Os patrões oferecem reajuste de 6%, índice considerado irrisório pelos docentes, que pedem cerca de 16%. Nesta terça-feira, 22, representantes de ambos os sindicatos se reuniram e apresentaram suas propostas.
Nesta quarta-feira, 23, os professores realizam assembleia às 14h na sede do Sinpro, na Graça, para debater estratégias de negociação com os donos de escolas. São cerca de 20 mil professores no estado.
Divergência
"Na verdade, até agora não ocorreu negociação. O patronato continua irredutível e insiste em propor um reajuste de 6%. Um valor irrisório ante os lucros das empresas", afirma o coordenador-geral do Sinpro, José Jande. Por outro lado, o assessor da diretoria do Sinepe, Jaime David Cardoso, diz que o índice proposto pelas escolas abarca todas as unidades.
"Não podemos discutir uma coisa que atinge só uma escola, a gente discute o todo. Há escolas que pagam mais do que outras. Então, o índice que propomos é para abranger todos os professores, não para alguns", diz Cardoso.
Há possibilidade de uma paralisação dos professores caso as negociações não avancem. Em todo o estado, cerca de duas mil escolas privadas e 225 mil alunos podem ser afetados. "Vamos esperar a assembleia e manter as negociações por enquanto. Fizemos uma greve grande em 2012 e outra em 2013. Houve muitas demissões. Não estamos pedindo nada de outro mundo, nada que as escolas não possam ceder", diz Jande, do Sinpro.
A possibilidade de greve é minimizada pelo Sinepe. "Paralisar escola particular é mais difícil, a adesão nunca é grande. Param seis, oito, no máximo, dez. E são sempre aquelas em que os diretores do sindicato ensinam", rebate Cardoso.
Alunos
A TARDE ouviu nesta terça alunos de quatro escolas da rede privada, que apoiam a reivindicação dos docentes por melhor remuneração. Mas temem que uma possível paralisação prejudique ainda mais o ano letivo, principalmente de quem está no terceiro ano do ensino médio e participará do Enem.
Luiz Filipe Fernandez e Tuan Jurberg, estudantes do segundo ano do ensino médio do Colégio Oficina, dizem que a greve é a medida mais drástica. "Os professores param quando acham que a negociação não avança. É um mal necessário", diz Tuan.
Os pais também mostram preocupação e cobram mais poder de negociação das escolas. "Acho que os professores da rede privada não deveriam parar. Pagamos uma mensalidade caríssima e as escolas deveriam pagar melhor aos professores", critica a empresária Simone.
A dona de casa Genaina Rocha, 42, apoia a reivindicação dos docentes. "É um direito deles, uma forma de lutarem por melhor remuneração. Mas, infelizmente, os alunos são sempre os mais prejudicados na história", diz.
Felipe Isaac, Gustavo Barcelos e Lucas Aquino, estudantes do segundo ano do ensino médio do Colégio Anchieta, temem que o calendário escolar se estenda até janeiro. "Os professores têm todo o direito de fazer greve. O problema é que, no final, nós sempre somos prejudicados, pois temos que estudar nas férias", afirma Isaac.
Para Lucas Matos, 16, aluno do segundo ano do Colégio Gregor Mendel, a preocupação está mesmo na reposição das aulas. "No ano passado já tivemos uma greve, de poucos dias, e tivemos que repor, o que foi bem cansativo. Em 2014, tivemos Copa. Então, se tiver greve, a reposição vai ser mais pesada", acredita.
Jade Guimarães, 16, e Bruna Carvalho, 15, alunas do segundo ano do ensino médio do Colégio Gregor Mendel, são favoráveis à causa dos professores e dizem que o sindicato patronal poderia ceder mais. "Eles só tomam providência quando os professores param. Enquanto os professores estão nas salas, eles acham ótimo", diz Bruna.