Point do bairro, a barraca de Cira é uma das que serão removidas com o início das obras
Baianas de acarajé e outros ambulantes que trabalham nas imediações do largo de Itapuã, na altura do Posto 12, afirmam ter recebido da prefeitura mais 10 dias de prazo para deixar o local, que faz parte das obras de requalificação da orla de Salvador.
Mesmo com a ampliação do período, que antes era de 10 dias, os comerciantes estão apreensivos quanto ao futuro do point, um dos preferidos pelos turistas.
Entre as quituteiras que deixarão o local está Jaciara de Jesus, 63 anos, ou simplesmente Cira. A baiana vende acarajé desde criança, quando a mãe dela, Odete, fundou a barraca no bairro.
Segundo Cira, caso sua barraca tenha de ser desativada durante as obras, cerca de 33 funcionários (a maioria, mães de família) ficarão desempregados. "Não vou ter como pagar, então terei que demitir o pessoal. Eles vivem disso aqui", afirmou.
Maria Cristina Santos, 46 anos, é uma das funcionárias de Cira que correm o risco de ficar sem emprego. Sem reserva financeira e com a previsão de seis meses afastada da comercialização dos quitutes, Cristina não sabe como sustentará a família.
"Só vivemos disso. Toda a renda da família vem do acarajé", disse a quituteira. Ela reclamou ainda da falta de diálogo: "Nem uma reunião fizeram conosco para conversar, explicar o que vai acontecer, como vamos ficar".
Pelo menos outras duas baianas de acarajé, vizinhas da barraca de Cira, também terão de sair do local: Maria das Graças Cerqueira, a Gracinha, e Tânia Cerqueira. Além delas, outros quiosques, uma pastelaria e uma barraca de beiju serão afetados com o início das obras.
A baiana Maria das Graças Cerqueira, 66 anos, 40 deles vendendo acarajé, conta ter criado oito filhos adotivos com o lucro da iguaria.
Atualmente, seis netos de dela dependem da atividade. "Se terminar, minha família fica toda desempregada", diz ela, com a voz embargada pela emoção.
"Minha pressão já subiu. Sou hipertensa. Eu não esperava que o prefeito fizesse isso com a gente, porque briguei muito por ele aqui, lutei com muita gente para defendê-lo", relembrou.
O mesmo receio é compartilhado por Maria de Lourdes, 54 anos, que divide a barraca de acarajé com a irmã Tânia. "Não dizem onde vamos ficar. Quem vai me dar emprego com essa idade?", questiona ela, baiana há 42 anos.
Até a Copa
Após receber a notificação da Superintendência de Conservação e Manutenção de Obras Públicas do Salvador (Sucop) para deixar a área, alguns vendedores foram à sede do órgão, individualmente, para tentar reverter a situação.
Eles pedem que seja autorizada a permanência no local pelo menos até o final da Copa. O lucro projetado para a época do evento esportivo pode se tornar prejuízo para muitos, que investiram na melhoria dos serviços.
No caso da pastelaria, uma estrutura de concreto abriga o comércio, onde também são servidos água de coco e açaí. Há 34 anos dono do local, Antônio Fernandes, conhecido como Bacalhau, teme ter a construção demolida.
"A obra vai trazer benefícios, mas precisam nos colocar em outro lugar. Podiam nos deixar aqui até a Copa", reivindica.