Os familiares de mortos e desaparecidos políticos brasileiros durante a ditadura militar ganharam mais um instrumento na busca de seus parentes, com a abertura hoje (25) de um banco de dados genético que permitirá comparar o DNA com o de ossadas não identificadas. O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, participou da solenidade de abertura do banco genético, na Universidade de São Paulo, ao lado de Marco Antonio Barbosa, presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Segundo Vannuchi, essa era uma das dívidas do Estado para com as famílias dos desaparecidos. Falta ainda completar um processo, do ponto de vista humanitário extremamente importante, que é a localização de mais de cem dos mortos [do regime militar]. Ele citou outras medidas, como a abertura de arquivos, mas ressalvou que "o problema é que não há ninguém processado [judicialmente] pelas práticas de violação aos direitos humanos.
De acordo com Marco Antonio Barbosa, o projeto do banco genético foi aprovado e assumido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que fez a licitação do laboratório e arcará com os custos. A criação do Banco de DNA de Mortos e Desaparecidos Políticos, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, é uma antiga reivindicação dos familiares das vítimas do regime militar.
Ao aguardar a sua vez de doar sangue, Saulo Garlipe, de 57 anos, disse que esta é uma iniciativa que deveria ter sido tomada há muito tempo. Ele disse que além de notícias sobre a irmã, Luíza Augusta Garlipe, que desapareceu no Araguaia nos anos 70, espera outras medidas do Estado, "como a abertura de arquivos". Ele se referia a documentos federais ainda guardados e sem acesso livre.
Acompanhada de dois filhos, Ilda Martins da Silva, de 76 anos, disse ter esperança de encontrar "os falecidos da gente". O marido dela, Virgílio Gomes da Silva, desapareceu em 1969. Ele era militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) e o laudo do Instituto Médico Legal de São Paulo sobre a morte foi localizado em junho de 2004. Os ossos estão enterrados no Cemitério de Vila Formosa, mas ainda sem identificação.