Sim, carnaval é fantasia. Mas, neste ano, os enredos das escolas paulistanas se misturaram à realidade no que ela tem de melhor: a força das comunidades. Elas não estavam apenas no gogó dos puxadores. Houve público recorde na avenida, na arquibancada e nos carnavais de bairro.
Segundo a São Paulo Turismo (SPTuris), eles bateram o recorde, com 15 mil a 20 mil pessoas por dia em quatro folias: Butantã, Vila Maria, Vila Esperança e Autódromo de Interlagos. O Sambódromo também recebeu público nunca visto: 28 mil pessoas no primeiro dia de desfile do Grupo Especial e 38 mil no segundo. "O carnaval oficial é pouco e a carência é grande. Antigamente havia os salões, tradição que praticamente acabou. As escolas estão valorizando seus redutos e está dando certo", avalia o colunista do
Jornal da Tarde Candinho Neto.
Segundo ele, as agremiações paulistanas precisam cada vez mais limitar o número de participantes, tamanha é a procura. "Não dá para ter mais de 3 mil pessoas no Anhembi." A aproximação com a comunidade vai desde a escolha de temas em que haja identidade - e tome de Vila Maria ao Bixiga - até o lado social - muitas oferecem cestas básicas e afins. "Mais perto do povo, o samba de São Paulo está menos preconceituoso. Não é mais visto como coisa de negro, pobre, subdesenvolvido. É algo cultural."
O paulistano também começa a identificar-se mais com as escolas, na opinião do cantor de samba Reinaldo Gonçalves Zacarias. "Era o que faltava, quando a gente compara com o Rio. Porque no Rio é normal o cara da comunidade viver o carnaval." Em São Paulo, até a quadra da campeã, Mocidade Alegre, está à venda. E muitos vizinhos não vêem a hora de a agremiação partir.
Diversa e cosmopolita, a cidade se reflete na variedade de perfis das escolas. Candinho ressalta que há desde as mais tradicionais, como a Nenê de Vila Matilde, até as mais profissionais, como a Império da Casa Verde, que investe pesado em fantasias, alegorias e carros. Para garantir o nível dos desfiles, nunca se investiu tanto. A Prefeitura destinou R$ 17,5 milhões. Além disso, vieram as verbas de patrocinadores (R$ 4 milhões), direitos de transmissão e o dinheiro arrecadado por escola, como cobranças de entrada em ensaios (R$ 30 milhões). No Rio, gasta-se quase o dobro. O número de turistas também cresceu. Foram 27 mil, 20% a mais do que no ano passado e 150% a mais que em 2005. Segundo a SPTuris, eles gastaram cerca de R$ 30 milhões, 20% mais que em 2006. O gasto médio do folião subiu: de R$ 235 para R$ 248.