A polícia desarticulou hoje a tesouraria do tráfico de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do bicho-papão, o dinheiro da venda de entorpecentes destinado à cúpula da facção. O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) deteve 21 acusados de participar da organização, entre os quais a advogada Maria Cristina Rachado, que defendia o líder máximo do grupo, Marcos Camacho, o Marcola.
A ação da polícia começou às 14h30 de ontem (19), quando investigadores do Deic chegaram à Rua Sinfonia Branca, na Lapa, zona oeste de São Paulo, onde funcionava a tesouraria do tráfico. Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, era ali que se administrava o dinheiro e se faziam os pagamentos dos serviços prestados pela advogada para Marcola. No local foram presos quatro acusados. Dois são importantes na facção: Marilene Simões, a Marlene, de 33 anos, e Leandro Souza de Queiroz, o Leandrinho. Marlene recebia ordens dos presos Ronaldo de Simone, o Elefante Branco, e Davi Magalhães, o Mago. Ambos têm o cargo de sintonia geral do PCC, função de quem é encarregado de repassar as ordens da cúpula para as diversas células compartimentadas que a facção mantém nas ruas. Ronaldo de Simone é irmão de outro cabeça do PCC, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, apontado como provável substituto de Marcola.
Marlene administrava a contabilidade. Registrava num livro a origem do dinheiro que recebia e o destino da droga para os pontos-de-venda no Estado de São Paulo. Leandro fiscalizava o trabalho de Marlene, pegava o dinheiro e lhe dava o destino final. O lucro do tráfico, que é destinado aos líderes, é chamado de bicho-papão. Na casa da Lapa foram apreendidos 21 quilos de cocaína e R$ 35 mil, dinheiro de dois dias de tráfico. Em junho, o bicho-papão ficou em R$ 224 mil.
Marlene foi flagrada em escutas da polícia preparando atentados contra ônibus na quinzena passada. ?Ela era acordada de madrugada para receber os salves (ordens) da organização para quebrar tudo, atacar ônibus e matar policiais?, disse o delegado.
Em Pirituba, zona oeste de São Paulo, o Deic deteve um armeiro que trabalhava para o PCC e apreendeu um fuzil e três espingardas. Os policiais ainda fizeram prisões no interior, em Sumaré e Cajamar, onde foi detido Alex Claudino Reis, o piloto (gerente) do PCC na zona oeste. Mais da metade dos presos participou dos ataques de maio e de julho.
Advogada - Já a advogada de Marcola foi detida esta manhã em sua casa, na Casa Verde, zona norte de São Paulo. Maria Cristina não queria acompanhar os policiais, mas acabou sendo levada à sede do Deic. Ali, negou todas as acusações. Contra ela, os policiais dizem ter provas de que usava integrantes do PCC para ameaçar desafetos de morte. Ela é ainda acusada de pagar R$ 200,00 a um funcionário do Congresso a fim de comprar depoimentos sigilosos de delegados na CPI do Tráfico de Armas.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que a nova acusação contra Maria Cristina será analisada no processo ético e disciplinar aberto contra a advogada. O procedimento foi instaurado por causa do suborno na CPI do Tráfico de Armas e já provocou a suspensão temporária por 90 dias do registro na OAB da advogada.
Em outra operação, policiais do Departamento de Homicídios detiveram o traficante de drogas Dácio Cândido da Silva, de 38 anos, acusado de liderar o tráfico no Jardim Lajeado, na zona leste de São Paulo. Foi Silva quem mandou distribuir no fim de semana panfletos defendendo os atentados do PCC.