O homem saiu do elevador com uma pasta e uma sacolinha nas mãos. Entregou dois telefones celulares funcionais, abraçou amigos e foi aplaudido. Em seguida, entrou no carro oficial e foi levado pela escolta até a casa. Era o fim da era Saulo Abreu na Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Ele entregou ontem à tarde o cargo ao adjunto, Marcelo Martins Oliveira.
Depois de quase cinco anos, a polêmica gestão Saulo chegou ao fim. Ele conseguiu a redução da maioria dos índices criminais no Estado, mas também se tornou o primeiro secretário da área a responder a dois processos criminais em função do cargo - acusado de abuso de autoridade e de desacato.
Saulo deixou a secretaria quase em sigilo. Apenas uma faixa feita por funcionários agradecia a amizade e a dedicação e desejava um forte abraço. Sua festa de despedida contou com a presença do atual delegado-geral, Marco Antônio Desgualdo. Notou-se ainda a ausência do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges.
O hoje ex-secretário decidiu que vai viajar - ele não revelou para onde - e só retorna ao Brasil no dia 10. Saulo pediu em novembro dois meses de férias e cinco meses de licença não-remunerada no Ministério Público Estadual (MPE) - ele é promotor de Justiça.
Apesar de a gestão de Saulo ter sido marcada pela onda de ataques iniciada em maio pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), os homicídios caíram 51% e os roubos e furtos de veículos, 32%. Os roubos bateram o recorde histórico em 2003 (248 mil casos) e devem fechar 2006 com um aumento de 1% em relação ao início da gestão de Saulo. Esse tipo de crime também caiu nos últimos dois anos.
Saulo ainda criou o programa de policiamento com motos nas grandes avenidas (Rocam), a uniformização dos programas de policiamento da PM em todo o Estado e novos sistemas informatizados de combate ao crime nas Polícias Civil e Militar. Mas o secretário que deixou o cargo também foi um dos mais questionados na Justiça.
Primeiro, ele foi investigado no caso das acusações de execuções envolvendo o Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância (Gradi) - a morte de criminosos na Rodovia Castelinho. Acabou inocentado pelo Tribunal de Justiça. Depois, foi acusado de abusar de autoridade ao mandar deter o dono de um restaurante na zona sul onde fora jantar. Por fim, a Procuradoria Geral de Justiça o denunciou por desacato aos deputados da Comissão de Segurança na Assembléia, por ter agido com deboche durante sessão da comissão.
CúpulaAgora caberá a Oliveira passar o cargo a Ronaldo Marzagão, o secretário nomeado pelo governador eleito, José Serra. Marzagão anunciou ontem a cúpula da Polícia Civil. O novo diretor da polícia na capital será o delegado Aldo Galiano e Youssef Chahim dirigirá o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Completam a lista Everardo Tanganelli (Departamento de Narcóticos), Ruy Estanislau Silveira Mello (Detran), Francisco Alberto de Souza Campos (Corregedoria), Domingos Paulo Neto (Departamento de Homicídios) e Nelson Silveira Guimarães (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo). Na semana passada, Mário Jordão Toledo Leme foi anunciado como novo delegado-geral.