Quatro líderes abordaram aspectos voltados à religiosidade e ao momento atual | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Abordando aspectos voltados à religiosidade e ao momento atual marcado pela pandemia do novo coronavírus, a mesa-redonda do A TARDE Conecta desta sexta-feira, 4, recebeu representantes de quatro religiões, que abordaram com leveza o papel do sagrado no momento atual e como tem sido a adaptação à nova realidade. Com mediação do jornalista Osvaldo Lyra, participaram do debate Mãe Jaciara, yalorixá do terreiro Axé Abassá de Ogum, padre Lázaro Muniz que está à frente da Paróquia Santa Cruz do Engenho Velho da Federação, o líder espírita José Medrado, fundador da Cidade da Luz e o pastor Joel, da Igreja Batista de Nazaré.
Sobre de qual forma cada uma das religiões percebia o fenômeno da pandemia, em consonância, os religiosos descartaram qualquer teoria que coloque o momento pandêmico como uma forma de castigo ou penitência advindos do sagrado. Para os líderes, trata-se de um momento de aprendizado, reflexão, companheirismo e respeito ao próximo.
“Há quem ache que é uma possibilidade de mudança e transformação da sociedade. Certamente o olhar novo e diferente sobre seus costumes e questões morais. Estamos procurando compreender que assim como essa pandemia, houve outros momentos para que a humanidade pudesse parar, repensar, olhar o mundo e suas atitudes, e, diante das circunstâncias, aprender a olhar para o outro”, sintetizou padre Lázaro.
O líder espírita José Medrado pontuou que durante os quatros meses de maior rigor nas medidas restritivas, houve um aumento da demanda tanto por auxílio espiritual, quanto por suprimentos e artigos de necessidade básica. Realidade também observada pelos outros líderes. “A princípio, não tínhamos dimensão do que seria esse vírus. A Cidade da Luz continuou com o trabalho social, a diretoria da escola disponibilizou chips para os alunos manterem contato. Estamos iniciando o processo de reabertura, mas bem diferente do que estávamos acostumados. As reuniões de 1.500 a 2.000 pessoas serão reduzidas a 150. Precisamos nos adaptar, como nossos ancestrais se adaptaram”, disse.
Situações que vieram à tona com a pandemia, como o aumento dos índices de violência doméstica, pastor Joel destacou a necessidade de se investir em mudanças tanto espirituais quanto nas práticas no cotidiano. “Vivemos numa sociedade extremamente racista e intolerante. Por conta de uma pandemia os maridos se sentiram mais à vontade para agredir suas companheiras. São abusos dos mais diversos das pessoas mais vulneráveis. O que isso quer dizer sobre a família normal? Isso está escancarando para a gente que nossos modelos já eram insustentáveis”, defendeu.
Retomada
Com as últimas flexibilizações promovidas pela gestão municipal, os templos religiosos passaram a poder acolher 30 % da capacidade. Os líderes religiosos pontuaram que as medidas de segurança estão sendo tomadas e destacaram o papel da internet neste momento.
Mas, se para as demais religiões muitos dos rituais podem ser feitos à distância, o mesmo não acontece com as de matrizes africanas. Mãe Jaciara explica que a maioria dos rituais requer maior contato físico, que vai desde a partilha do alimento durante os rituais – agora adaptada a pratos descartáveis individuais – ao acolhimento e abraços à entidade. De acordo com a yalorixá, é momento de se reinventar, zelando pela saúde de si próprio e dos outros para que as coisas retornem gradativamente.
“Aqui no terreiro, mesmo com a liberação, não iremos fazer festa. Embora tenhamos espaço para receber um número adequado de pessoas, ainda estamos fazendo rituais internos e uma nova forma de adaptação na casa, visando o cuidado com o outro, a prevenção de usar máscara, redobrar higiene e cuidar de não ultrapassar o que é a realidade. Não adianta festejar e contaminar o outro”, ressaltou.
*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre