Níveis de inadimplência para pessoas físicas e jurídicas ficaram em 2,9% e 1,2% em janeiro
Executivos de bancos e birôs de crédito, como o Serasa, por exemplo, afirmam que "a redução do auxílio emergencial e o alto nível de desemprego no país" devem trazer um aumento no número de calotes de pessoas físicas neste ano.
Os grandes bancos de capital aberto (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) já reservaram mais de R$ 93 bilhões em provisões em 2020, um aumento de 52,9% em relação ao observado no ano anterior, como forma de se precaver diante do cenário.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o benefício deve ser retomado, porém com valores menores (entre R$ 150 e R$ 350). No início, a promessa era de que eles voltassem em março, mas atraso na aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, aprovada no Senado na semana passada, deve levar a uma revisão do cronograma.
A demora de três meses entre o fim dos pagamentos do auxílio emergencial, em dezembro, e o começo da alta nos calotes acontece porque a dívida só é considerada inadimplente depois de 90 dias. Antes desse prazo, os credores consideram o débito como atrasado e tentam, por conta própria ou pela contratação de terceiros, reaver o pagamento via cobrança.
Já em dezembro, dados de entidades que representam montadoras e distribuidoras de veículos apontaram que o benefício fez diferença na venda de carros, motos e caminhões em 2020, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
O momento ainda casa com as contas características de início de ano —como IPTU (Imposto Predial e Territorial e Urbano) e IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores)— e com um alto índice de desemprego no país.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o desemprego alcançou 13,4 milhões de pessoas considerando todo o ano de 2020.
O movimento, somado a um cenário de taxa básica de juros maior, pode aumentar os spreads bancários (diferença entre a taxa de captação e de empréstimos) e elevar o custo do crédito na ponta, para pessoas físicas e jurídicas.
No início da pandemia, os bancos prorrogaram o prazo de pagamento de dívidas de empresas e pessoas físicas. A ação, junto a medidas como o auxílio e o lançamento de créditos com garantia do Tesouro, melhorou a condição de pagamento de devedores, impedindo uma explosão de novos atrasos e levando a inadimplência para níveis historicamente baixos.
O último relatório de crédito do Banco Central, divulgado no final de fevereiro, apontou que o índice de calotes total do sistema financeiro ficou em 2,1% em janeiro –0,8 ponto percentual menor do que o registrado em igual mês de 2020 e o menor patamar da série histórica.
O mesmo acontece nos níveis de inadimplência para pessoas físicas e jurídicas, que ficaram em 2,9% e 1,2% em janeiro, respectivamente, também os menores níveis da história para a categoria.
A inadimplência das empresas tende a ficar mais para frente, uma vez que os créditos tomados ao longo de 2020 tinham período de carência.
Com isso, para pessoas jurídicas, a expectativa dos especialistas é que o efeito nas pessoas jurídicas comece a ser sentido no final de 2021 e início de 2022.
O estoque total de crédito no Brasil, segundo o BC, ficou estável em janeiro na comparação com dezembro, em R$ 4,020 trilhões, equivalente a 54,1% do PIB (Produto Interno Bruto).