Othon Bastos participa do filme
O Último Cine Drive-In é uma história de amor ao cinema que não nasceu da vontade de falar de cinema, mas da necessidade de abordar o relacionamento entre pai e filho. Era a história de um rapaz que estava perdendo a mãe e reencontrava o pai.
Quem conta é o diretor (o brasiliense Iberê Carvalho) do filme que recebeu no Festival de Gramado os prêmios da crítica de melhor longa-metragem nacional, de melhor ator (Breno Nina), atriz coadjuvante (Fernanda Rocha) e direção de arte (Maíra Carvalho).
"Em um determinado momento eu revisitei o drive-in de Brasília e vi que o filme poderia ser contado a partir daquilo ali. Fui pesquisando e conhecendo um pouco mais a história daquele lugar. Deixei que a minha paixão pelo cinema fosse incorporada ao Almeida, que é o pai e guardião do último drive-in", conta.
Para o papel, diz, sempre quis um ator que trouxesse na sua imagem um pouco da história do cinema brasileiro. Daí surgiu o baiano Othon Bastos, que acabou entrando também como produtor associado.
Iberê procurou o filho, o operário Marlonbrando, e o encontrou em Breno Nino, um ator de São Luís do Maranhão que morou em Brasília e conheceu fazendo trabalho publicitário. "A gente fez uns testes, eu fiquei muito feliz com o que Breno apresentou, a disponibilidade (e vontade) que ele tinha de fazer o filme", conta o cineasta, que partiu então para buscar a mãe, Fátima, interpretada pela baiana Rita Assemany, que viu em Esse Glauber. "Ela ficou em minha memória como uma grande atriz, alguém com quem eu queria trabalhar um dia", diz.
Sobre a personagem da carioca Fernanda Rocha, diz que queria uma Paula de verdade, que transitasse entre o menino e a menina, entre o adulto e a criança. "É muito comum a gente ver personagens assim caírem no lugar-comum", afirma.
O fato de a atriz estar grávida, que poderia ser um problema, fala, "na realidade vimos que ia tornar rica a personagem". O diretor se refere às expectativas do rapaz, "que ia ficar pensando que ela está no lugar da mãe, mas, não, ocupou o lugar dele".
Núcleo
O filme se fecha nos quatro personagens. São o núcleo de O Último Cine Drive-In, que não é dado a conhecer logo no início, do modo como ocorre convencionalmente. E mesmo no decorrer do filme, nada fica assim tão claro. As histórias são colhidas pouco a pouco, a partir da presença de Marlonbrando tentando invadir o hospital para onde levou a mãe doente. Não tendo onde ficar, o rapaz procura o pai. Vê-se logo que a relação entre os dois, que não se encontram há anos, não é boa.
O Último Cine Drive-In é uma homenagem ao cinema, mas não carrega consigo a emoção de Cinema Paradiso (Guseppe Tornatore, 1988), com o qual é normalmente comparado.
Os recursos de metalinguagem e as citações vão surgindo meio que sorrateiros, assim como os personagens na tela. Intui-se logo por que o nome Marlonbrando - estão lá os cartazes de Um Bonde Chamado Desejo e de O Poderoso Chefão. São muitas as citações cinematográficas, que vão de Walter Salles (Central do Brasil) a Peter Bogdanovich (Na Mira da Morte), que não por acaso também fez, em 1971, A Última Sessão de Cinema.
Com fotografia de André Carvalheira, que valoriza os tons avermelhados de Brasília mesmo à noite, tempo predominante do filme, Iberê Carvalho vai formando os elos.
Faz um filme não apenas sobre o ocaso, o fim, representado pelo cinema que está fechando e a morte iminente da mãe, mas sobre o início, o recomeço, representado na gravidez de Paula e na cena que finaliza o filme. O Último Cine Drive-In é para ser lido nos subentendidos, no silêncio e nas entrelinhas.