A Loucura Entre Nós, retrato de um hospital psiquiátrico de Salvador
É inegável como a produção documental realizada no Brasil vem crescendo em quantidade e qualidade. Parte dessa leva de filmes ganha espaço no já consolidado CachoeiraDoc - Festival de Documentários de Cachoeira, realizado na cidade do Recôncavo Baiano localizada a 110 km de Salvador.
O evento começa nesta terça-feira, 1º, e vai até o dia 7 de setembro, com programação variada. Serão exibidos ao todo 57 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, sendo mais de 30 deles inéditos no estado. As exibições acontecem no Cine Theatro Cachoeirano.
O festival chega à sua sexta edição e se destaca cada vez mais como uma relevante janela para exibição e discussão do gênero documental, apostando sempre numa programação mais autoral e instigante.
"A experiência de cinema que nos interessa promover é aquela que assume o risco de enfrentar os desafios e descontroles da vida para forjar novos olhares e novas escutas para o mundo", relata a idealizadora e coordenadora do evento, Amaranta Cesar.
A abertura do festival será com os filmes Tupinambá - O Retorno da Terra, de Fernanda Alarcon, e Retomada, de Leon Sampaio.
Competição
Oito filmes, entre médias e longas-metragens, além de 13 curtas, disputam a mostra competitiva do festival. Dos longas, destaque para A Paixão de JL, filme vencedor do festival brasileiro É Tudo Verdade, um dos maiores do formato documental.
"Aquilo que se chama de documentário hoje em dia é, para mim, mais uma fronteira híbrida de gêneros do que um gênero em si. É um espaço de experimentação", conta Carlos Nader, o experiente documentarista diretor de A Paixão de JL, que no ano passado já havia passado pela competição do CachoeiraDoc com o filme Homem Comum.
Mais do Que Eu Possa Me Reconhecer, do jovem Allan Ribeiro, vencedor da Mostra Tiradentes, também faz parte da competição. Somam-se a ele filmes os mais diversos, como Noite, de Paula Gaitán, espécie de ensaio poético a partir da música eletrônica na noite carioca; e Retratos de Identificação, investigação política sobre desaparecidos no período da Ditadura, dirigido por Anita Leandro.
Com essa variedade de propostas, o CachoeiraDoc mostra-se inclinado a exibir obras mais provocadoras. Como observa Amaranta, "o desafio foi o de compor uma seleção que refletisse uma diversidade de modos de vida e de cinema que caracteriza a produção brasileira contemporânea".
Produção baiana
Na mostra competitiva, também há destaque para o longa baiano A Loucura Entre Nós, dirigido por Fernanda Vareille. O filme é um retrato sobre pessoas, em especial mulheres, que vivem num hospital psiquiátrico de Salvador.
"Fiquei muito feliz com a seleção do filme no CachoeiraDoc e a possibilidade de mostrá-lo para o publico baiano. Eu respeito muito a curadoria desse festival, portanto fiquei honrada em saber que o filme faria parte da mostra competitiva nacional", conta a diretora.
Alguns curtas baianos também marcam presença na competição, como os performáticos Ana, de Camila Camila, e Eu, Travesti?, de Leandro Rodrigues, além de O Mar, a Mata e a Humanidade, assinado pelo Coletivo Cinema e Sal. Competem com outras produções nacionais como A Festa e os Cães, filme do cearense Leonardo Mouramateus premiado no importante festival de documentários Cinéma du Réel, na França.
O importante cineasta baiano e criador da saudosa Jornada de Cinema da Bahia, Guido Araújo, recebe uma merecida homenagem na Mostra Clássicos do Real, que exibe filmes como A Morte das Velas do Recôncavo (1975), Maragogipinho (1968) e Feira da Banana (1974), a chamada Trilogia do Recôncavo.
Olhares desafiadores
O festival também é composto por programas especiais voltados para filmes que têm se destacado no panorama mundial no campo documental. Um dos mais instigantes é o monumental Terra Natal: Iraque Ano Zero, obra de mais de cinco horas dirigido por Abbas Fahdel, que retrata o antes e o depois da invasão americana no Iraque.
Além disso, o festival recebe uma mostra com filmes do Laboratório de Etnografia Sensorial, sediado na Universidade de Harvard. Entre eles, estão os inventivos Leviatã, da dupla Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor, que acompanha a rotina em um navio de pesca industrial, e Manakamana, de Stephanie Spray e Pacho Velez, filmado num teleférico no Nepal.
A importante Escola Internacional de Cinema e TV, de Cuba, está representada por um conjunto de filmes de jovens realizadores que lá desenvolveram seus trabalhos. A também jovem realizadora brasileira Larissa Figueiredo lança no festival O Touro, seu primeiro longa-metragem que participou do Festival de Roterdã.
Com toda a efervescência dessa produção, o CachoeiraDoc ainda abre espaço para reflexões e discussões sobre cinema com um ciclo de conferências, cursos e oficinas, como as de Crítica de Documentário e Documentário Urgente. Toda a programação do evento é gratuita.