Chico Castro Jr.
Ben-Hur já está nos cinemas de Salvador
Antes de qualquer coisa, é bom deixar claro: esta nova versão de Ben-Hur não deve ser comparada de forma alguma ao clássico vencedor de doze Oscars dirigido por William Wyler em 1959. É outro século, outra tecnologia, outro roteiro, outras intenções, outro estilo de interpretação, enfim: a comparação não faz sentido.
Não a toa, os atores têm declarado à exaustão que não se trata de um remake e sim de um filme baseado no livro Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo (1880), de Lew Wallace. Este Ben-Hur se inscreve na categoria de filmes de época mais recentes, como Êxodo: Deuses e Reis (2014, de Ridley Scott), Noé (2014, de Darren Aronofsky), ou Pompeia (2014, de Paul W.S. Anderson).
Dirigido por Timur Bekmambetov, um russo de origem cazaque especializado em filmes de ação altamente adrenalizados, como Procurado (2008) e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012), o Ben-Hur do século 21 tem duas características marcantes: demarca razoavelmente bem a questão política da ocupação romana em Jerusalém na época de Jesus Cristo e, ao contrário do clássico de 1959, faz uma opção filosófica pelo perdão, ao invés da vingança.
Briga de irmãos
Na trama, acompanhamos a saga de Judah Ben-Hur (Jack Huston), membro de uma família da nobreza judaica de Jerusalém. Ele cresceu ao lado do seu irmão adotivo, Messala Severo (Toby Kebbell), de origem romana, povo que invadiu e tomou o poder da cidade.
Crescido, Messala se torna oficial do exército romano. Em campos opostos, Messala condena a família que o criou à escravidão. Após muito penar, Ben-Hur consegue se libertar e volta à cidade para desafiar o irmão traidor para uma corrida de bigas.
Em suas muitas idas e vindas, Ben-Hur cruza algumas vezes com um certo cabeludo cheio de ideias que provavelmente seriam dispensadas como "comunistas" nas redes sociais de hoje: Jesus Cristo (Rodrigo Santoro, em atuação serena).
Como se pode imaginar, Ben-Hur 2016 é um bom filme de entretenimento, com orçamento de blockbuster - aposta arriscada para o estúdio Paramount, que tem que enfrentar nas bilheterias os filmes de super-herói.
A favor, uma direção equilibrada do russo, que guardou as câmeras alucinadas para duas cenas: a icônica corrida de bigas e a sequência do protagonista escravizado na galera. Toda vista da perspectiva do escravo, esta ficou tão boa que ofuscou as bigas.
O pior do filme é o final. Sem entregar spoiler, a opção pelo perdão poderia ser melhor explorada. Do jeito que ficou, lembra novela global.