Divinas Divas é a estreia de Leandra Leal como diretora de cinema
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Nasce uma diretora. O primeiro longa-metragem dirigido pela reconhecida atriz Leandra Leal foi apresentado na abertura da 20ª Mostra de Tiradentes, na sexta à noite. O documentário Divinas Divas lança luz sobre a primeira geração de artistas transexuais a se apresentarem oficialmente no Brasil.
A história é bem pessoal: o avô de Leandra, Américo Leal, foi dono de um famoso teatro em que se apresentaram várias travestis a partir de meados dos anos 1960. Leandra cresceu nesse meio artístico - sua mãe era também atriz -, tendo contato desde pequena ao universo dos palcos e dos shows das divas.
"Quando eu comecei a pesquisar e vi as divinas de novo no palco, eu já estava em busca de fazer algo mais autoral, algo meu. As divinas me fizeram assumir essa vontade de dirigir" revelou a cineasta.
Mas Divinas Divas está longe de ser somente uma rememoração pessoal da diretora, voltada somente para suas lembranças. A voz de Leal surge numa narração em off rapidamente no início e no fim, mas o filme é totalmente entregue às divas com quem a diretora conversa e observa, em um misto de carinho e curiosidade.
Leandra reúne agora as principais vedetes que se vestiam de mulher e se lançaram ao sucesso naquele palco que ela viu brilhar ao longo da vida. A mais conhecida delas é Rogéria, que se intitula como a "travesti da família brasileira", por ser a mais popular.
Intimidade
São muitas questões que o filme consegue investigar nesse processo de resgate de histórias tão pessoais e transgressoras. A principal constatação é a de que esses transexuais desafiavam as normas conservadoras da sociedade em plena Ditadura Militar.
Enquanto se preparam para uma apresentação especial comemorativa, os ricos personagens que Leal escolhe falam do momento em que se apaixonaram pelo se vestir de mulher, do encanto com os palcos, as dores e alegrias de se assumirem como tais. Abordam também as dificuldades que tiveram com as respectivas famílias, a fala silenciada em tempos de repressão.
Talvez por se tratar de algo tão pessoal para a diretora, o documentário se estende muito, como se Leal estivesse encantada por aquele universo e todas aquelas memórias que afloram. Há mesmo um excesso de personagens ali, todos muito ricos, mas nem sempre tão bem aproveitados pela montagem do filme.
Carreira
Leandra Leal também recebeu uma homenagem da Mostra de Tiradentes por sua carreira, já tão cheia de grandes interpretações. Trabalhou com grandes mestres do cinema, como Paulo César Saraceni em seu magistral O Viajante (1998).
Com Murilo Salles protagonizou o visceral Nome Próprio (2007) que lhe rendeu um Kikito de Ouro de melhor atriz no Festival de Gramado. Mais recentemente fez o elogiado O Lobo Atrás da Porta (2013), de Fernando Coimbra.
Mas quem lhe abriu as portas para o cinema foi Walter Lima Jr. em A Ostra e o Vento (1997) quando ela tinha apenas 13 anos. Aliás, o filme foi exibido na Mostra exatamente na primeira edição do evento, o que faz Leandra e Tiradentes terem o mesmo tempo de carreira. "Eu quero agradecer a oportunidade de comemorar junto com vocês os meus 20 anos de cinema", relembrou Leandra na noite de abertura.