Juliette Binoche no filme A Espera, que é inspirado em peça de Luigi Pirandello
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Há um momento em que Lou de Laâge convida Juliette Binoche para dar um mergulho, em A Espera, longa de estreia do italiano Piero Messina, que foi assistente de direção de Paolo Sorrentino em A Grande Beleza (2013). Binoche diz não, porque só consegue olhar algumas partes do seu corpo no escuro.
A sequência é densa. E o que segue é uma espécie de tensão que se esgota (como tudo no filme) no esforço de Messina por contar uma história que se revela aos poucos, mas não em detalhes. O que interessa é o que se apresenta ali. Todo o resto será como o corpo nu que a personagem prefere ver oculto.
Inspirado livremente em A Vida que Te Dei, peça de Luigi Pirandello, A Espera traz Binoche no papel de Anna, uma mulher enlutada pela perda do filho. Ela recebe em casa a nora (Jeanne - Laâge), que busca a reconciliação com o namorado.
Todos sabem que o rapaz morreu, mas a garota não. A mãe diz a ela que acaba de enterrar um irmão, o tio do rapaz. Não à toa, aquele diálogo de Binoche com Laâge, à beira de um lago, soa tão importante no filme impregnado por uma atmosfera lúgubre, ao mesmo tempo que solar, exacerbada pela câmera de Francesco Di Giacomo.
A Espera é um filme feito de expectativa, sinalizada nos ritos religiosos da Semana Santa em conformidade com o prenúncio de chegada do rapaz associado ao período da Páscoa.
Feito também de mistério, acentuado pelo claro-escuro que predomina nas tomadas internas do filme e na presença um tanto enigmática de Pietro (Giorgio Colangeli), um empregado da casa que não entende por que Anna não conta a verdade a Jeanne.
O que provavelmente interessa a Anna é o prolongamento da relação com o filho, pouco ou quase nada explicitada ao longo do filme, amparada pela presença da nora, com quem mantém uma relação um tanto maternal, como se ganhasse tempo para assimilar o luto e lidar melhor com a perda.
Colaborador de Sorrentino, que se tem mostrado um discípulo de Federico Fellini, é em Michelangelo Antonioni que Piero Messina se inspira. O tempo morto, suspenso, as pausas, o silêncio, as deambulações, tudo remente ao diretor da 'trilogia da incomunicabilidade'.
Há até um fio narrativo que lembra O Passageiro - Profissão: Repórter. O espectador conhece alguns detalhes da relação da namorada com o filho, em A Espera, por meio das mensagens que ela deixa no celular, escutadas pela mãe, evocando a gravação que Jack Nicholson ouve no quarto de um hotel no deserto africano logo no início do filme lançado por Antonioni em 1975.