Jovens ficam acampados esperando show de Beyoncé no Brasil
Divulgçaão
Em setembro de 2013, fãs brasileiros da cantora Beyoncé acamparam por dois meses em frente ao estádio do Morumbi. Eles queriam comprar ingressos mais baratos para assistir ao show que ela faria em São Paulo, além de garantir lugares na frente do palco.
Waiting for B. é o registro dessa espera, e vai mais além do que simplesmente explorar um dado curioso que pode ser facilmente associado às excentricidades de fãs. Dirigido pelo casal Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, o filme amplia-se para visualizar melhor a vida de alguns desses jovens.
A maioria deles vive na periferia paulista, são em geral gays e negros, todos de baixo poder aquisitivo. "Quem não é fã tem oportunidades que os fãs não têm", desabafa Gabriela Electra, uma das personagens seguidas pelo filme.
Ela se refere aos ingressos caros para os lugares mais privilegiados para se ver o show, algo inacessível para ela e seus amigos. Nas horas vagas, Gabriela faz apresentações como cover da própria Beyoncé em boates, voltando logo depois para ocupar seu lugar na fila das barracas.
Já o primeiro da fila é Charlles Angels, um organizador nato. Ele tomou para si a tarefa de administrar as barracas, ocupadas por pequenos grupos, e controlar a ordem das pessoas que estão acampadas, garantindo que ninguém fure a fila.
Retrato social
O filme é quase um documentário de observação, que poderia somente se ater a registrar a rotina daqueles jovens. A dupla de diretores consegue adentrar na intimidade daquelas pessoas, enquanto se reveza entre a casa, o trabalho e as noites nas barracas.
Mas Waiting for B. não se contenta somente em observar. Ao conversar diretamente com alguns dos admiradores da diva pop, o filme revela um grupo de jovens, dos mais tímidos aos mais expansivos, cheios de perspectivas e dificuldades, e que enfrentam constantemente discriminação social.
Eles falam abertamente sobre sexualidade, homofobia e racismo, e o que significa se espelharem em um ícone da cultura pop, uma mulher negra, cujo trabalho também reflete certas questões relacionadas a gênero e negritude.
Junnior Martins, por exemplo, que também é um dos primeiros da fila, expõe os ressentimentos que guarda da família depois que se assumiu homossexual. Mas é também um dos personagens mais animados e engraçados do filme, algo que se reflete em todos aqueles jovens: estão animados e querem celebrar o encontro com o ídolo que tanto amam.
Com esse retrato social expandido, Waiting for B. acaba sendo uma bela surpresa para um tema aparentemente banal, apesar de apresentar uma montagem por vezes irregular, deixando de lado alguns personagens que pareciam mais interessantes.
Ainda assim, constrói um trabalho complexo de representação de onde menos se esperava, através de jovens que são muito mais do que meros aficionados por uma cantora norte-americana.