"Ninguém Está Olhando", dirigido por Julia Solomonoff, foi o grande ganhador
Divulgação
"Ninguém Está Olhando", dirigido por Julia Solomonoff, venceu o Troféu Mucuripe de melhor longa da 27ª edição do Cine Ceará. O filme portenho retrata o cotidiano de um ator argentino que vive em Nova York buscando oportunidades para alavancar a carreira. O filme é protagonizado por Guillermo Pfening, que também levou o prêmio de melhor ator.
O destaque para melhor diretor foi para o veterano Fernando Pérez, do longa cubano "Últimos Dias em Havana". Já a atriz cubana Lola Amores, de "Santa e Andrés", desbancou a favorita, a atriz transgênero de "Uma Mulher Fantástica", que venceu os prêmios de melhor som e trilha sonora.
O tradicional prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) também elegeu "Ninguém Está Olhando" como melhor longa; e "Vênus – Filó, a Fadinha Lésbica", de Sávio Leite, foi o melhor curta.
O prêmio principal para curta-metragem foi para a produção paulista "Festejo Muito Pessoal", de Carlos Adriano, filme que celebra o centenário do crítico Paulo Emílio Salles Gomes. O Canal Brasil e seu Prêmio de Aquisição para curta-metragem elegeu o filme cearense "Memórias do Subsolo ou O Homem que Cavou Até Encontrar uma Redoma", de Felipe Camilo.
Cinema cubano em alta
O Cine Ceará deste ano destacou a produção cubana com dois filmes que colocam em discussão a relação de personagens como o regime político da ilha e os dilemas morais e ideológicos que envolvem a permanência no país.
Em "Últimos Dias em Havana", o cineasta Fernando Pérez contrapõe dois personagens que vivem sobre o mesmo teto. Diego (Jorge Martínez) é um homem solitário que vive prostrado numa cama por conta das complicações com a AIDS. Quem lhe assiste é o introspectivo Miguel (Patricio Wood) que não vê a hora de conseguir o visto para os Estados Unidos e deixar a ilha de vez.
Através do olhar dele, o filme faz um retrato sobre as durezas e pequenas alegrias da cultura e modos de vida cubana, colocando em xeque as posições antagônicas sobre a validade de seguir morando na ilha, com todo os problemas que há ali.
O roteiro, no entanto, não apela para o tom dramático, preferindo apostar na leveza e no bom-humor para apresentar uma série de outros personagens que lidam com os planos de futuro diversos. O filme tem data de estreia comercial no Brasil para 17 de agosto.
Já a produção "Santa e Andrés" situa-se no início dos anos 1980 e também trabalha na dicotomia entre os opositores e defensores do regime. O protagonista é um escritor considerado subversivo. Censurado no passado, vive recluso e sob custódia do regime cubano também por ser homossexual. É sabido como o sistema cubano tratou de forma impositiva os intelectuais e ativistas que questionavam o sistema político implantado por Fidel Castro.
O diretor é o jovem Carlos Lechuga (esse é seu segundo longa) e seu filme não se furta de apontar tais pontos controversos do sistema político cubano. O filme chegou a ser censurado nos cinemas do seu país.
Integração
O diretor e organizador do festival, Wolney Oliveira, comemorou mais uma bela edição do Cine Ceará que sustentou a proposta de exibir filmes inéditos e de celebrar a produção ibero-americana.
Wolney destacou também a realização do I Seminário da Descentralização da Produção Audiovisual no Centro-Oeste, Norte e Nordeste (Conne), cuja pauta girou em torno da necessidade de atrair mais recursos e fomentos para produtos audiovisuais realizados fora do eixo Rio-São Paulo.
Com a presença do ministro da Cultura, Sergio Sá Leitão, foi anunciada a reserva de um recurso de R$ 94 milhões para as produções das regiões Conne, prevista ainda para este ano, que visa alcançar a cota de 30% dos recursos para o audiovisual da região em relação ao total do que é gasto em todo o país.
“O Cine Ceará é um dos poucos festivais que têm a preocupação com a política setorial do audiovisual em termos de defender que tais recursos venham para as nossas regiões”, defendeu Wolney.
>> Confira abaixo a lista de premiados do 27º Cine Ceará
Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem:
Melhor Longa-metragem – Ninguém está olhando, de Julia Solomonoff
Melhor Direção – Últimos dias em Havana – Fernando Pérez
Melhor Fotografia – Últimos dias em Havana – Raúl Pérez Ureta
Melhor Montagem – Ninguém está olhando – Andrés Tamborino, Karen Sztanjberg e Pablo Barbieri.
Melhor Roteiro - Santa e Andrés – Carlos Lechuga
Melhor Som – Uma mulher fantástica – Isaac Moreno
Melhor Trilha Sonora – Uma mulher fantástica – Matthew Herbert
Melhor Direção de Arte – Malasartes e o Duelo com a Morte – TuléPeake
Melhor Ator – Ninguém está olhando – Guillermo Pfening
Melhor Atriz – Santa e Andrés – Lola Amores
Prêmio da Crítica (Abraccine) – Ninguém está olhando, de Julia Solomonoff
Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem:
Troféu Mucuripe
Melhor Curta-metragem – Festejo Muito Pessoal, de Carlos Adriano
Melhor Direção – Valentina - Estevão Meneguzzo e André Félix.
Melhor Roteiro – Memórias do subsolo ou o homem que cavou até encontrar uma redoma, de Felipe Camilo.
Melhor Produção Cearense – Caleidoscópio, de Natal Portela
Prêmio da crítica (Abraccine) – Filó a fadinha Lésbica, de Sávio Leite
Prêmio Canal Brasil de Curtas:
Melhor filme da Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem (R$ 15.000,00) – Memórias do subsolo ou o homem que cavou até encontrar uma redoma, de Felipe Camilo
* O jornalista viajou a convite da organização do festival.