O italiano Paolo Rossi foi o carrasco da seleção brasileira em 82
Mesa de bar e futebol formam um casamento perfeito. Os resultados na última rodada ou as especulações para os próximos jogos sempre são assuntos dessas reuniões. Em tempos de Copa das Confederações com jogos na cidade, a Seleção Brasileira vira assunto constante das conversas nos bares.
Foi de uma situação como essa, em uma mesa do Líder, bar no bairro do Dois de Julho, que surgiu o projeto 82 - Uma Copa, Quinze Histórias, organizado pelo escritor Mayrant Gallo. "O assunto futebol apareceu em uma conversa de bar quando estávamos fazendo As Baianas [livro de contos lançado ano passado]", lembra Gallo.
O lançamento acontece na próxima sexta-feita, às 18 horas, na livraria LDM do Espaço Itaú Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. O livro será vendido no evento por R$ 30.
O mote do projeto é o trauma que envolve o jogo entre Brasil e Itália nas quartas de final da Copa do Mundo de 1982. O jogo ficou conhecido como Sarriaço, uma referência ao Maracanaço, mas no estádio Sarriá, em Barcelona. Na partida, a Seleção Brasileira foi eliminada da competição após a derrota por 3 x 2. O que marca é o fato de que aquele time empolgava o torcedor em todo o País e até hoje é lembrado como uma das melhores gerações da Seleção, mesmo sem o título.
"Todos os escritores que estavam naquela conversa no Líder tinham, de certa forma, um trauma daquela partida. Na hora, eu disse que isto que poderia ser o tema do nosso próximo projeto. Pensei em fazer uma coletânea de contos ambientados no contexto da partida", afirma o organizador do livro.
O jogo entre os dois países, que acontece hoje, às 16 horas, na Arena Fonte Nova, é o gancho para o lançamento do livro. "Eu não me lembrava que em 2012 completavam 30 anos daquela derrota. Alguns autores queriam fazer o lançamento com esse gancho, mas não teria como. Fiquei tranquilo e feliz com o sorteio que colocou Brasil e Itália para jogar aqui em Salvador pela Copa das Confederações. Pensei que era um motivo muito melhor para o lançamento", afirma Gallo.
Superstição e infância - O livro traz 15 histórias que retratam diferentes formas de relação com as memórias do jogo. As superstições, que atribuem a derrota a elementos externos, e a relação da infância, principalmente dos garotos, com o futebol estão entre os principais temas dos contos do livro. Há ainda um texto de Tostão, classificado como craque da bola e da palavra, na orelha.
Um dos destaques do livro é o conto de abertura, Toda a Arte do Futebol, escrito por Lima Trindade. A história mistura a relação da criança com o futebol e a superstição na torcida.
Na narrativa, Denis é uma criança que ver o pai voltar para casa, depois de anos fora. Para tentar reconquistar o filho, o pai leva Denis para assistir aos jogos no bar da rua. Logo se cria uma superstição: Denis desenhar personagens de histórias em quadrinhos no intervalo.
Outro destaque é o último conto, Rebote, de Tom Correia. A história recria um momento decisivo do jogo. Já no final da partida, quando o Brasil já perdia por 3 x 2, Éder cobrou falta com cruzamento na área, Óscar cabeceou e o goleiro segurou.
A história espanta, na ficção, o trauma. "No conto, eu transformo o momento da realidade como se o goleiro rebatesse a bola e, no rebote, o personagem faz o gol", diz Correia.
Não são só contos dramáticos e traumáticos que compõem o livro. Elieser Cesar traz uma pitada de humor com a história de um taxista que pega um passageiro italiano do aeroporto do Rio de Janeiro. Durante o trajeto, conversam sobre a fatídica partida, da alegria dos italianos e da tristeza dos brasileiros. Contudo, o passageiro não era um italiano qualquer, mas sim o carrasco Paolo Rossi.
Histórico do carrasco - Em 1979 e 1980, o futebol italiano foi marcado pelo escândalo do Totonero. Foi assim que ficou conhecida as manipulações de resultados do campeonato italiano daquela temporada, referência ao Totocalcio, loteria esportiva do país.
As investigações apontaram o envolvimento de 27 jogadores de diferentes clubes. Entre eles, o maior, e mais odiado carrasco da história do futebol brasileiro: Paolo Rossi.
O jogador sempre negou sua participação no esquema e foi inocentado na Justiça comum. Contudo, a Justiça desportiva o puniu com suspensão de três anos. Na teoria, apenas em 1983 ele voltaria a jogar.
A punição, porém, ficou só no campo da teoria. Em pouco tempo, a pena do jogador foi reduzida e ele pôde fazer parte da seleção italiana e causar o maior trauma do futebol brasileiro.