O DJ KL Jay (Racionais MC's) se apresenta e participa de palestras
Inicia-se nesta segunda-feira, 12, Dia Mundial do Hip-Hop, a segunda edição da Semana Baiana de Hip-Hop, evento que promove o movimento em Salvador, unindo os quatro elementos da cultura (MC, DJ, Break e Graffiti) em um mesmo lugar, além de uma exposição fotográfica.
A semana propõe uma reflexão sobre o mês da Consciência Negra e mostra os trabalhos de artistas locais e outros estados. Workshops com temas como literatura, produção cultural e a ocupação do espaço do hip-hop pela mulher também estão incluídos na grade, além das atrações artísticas.
"O intuito é abrir um espaço para formação, no qual as pessoas ligadas ao movimento tenham uma noção de que é preciso investir para que nós possamos sobreviver", explica Lísia Lira, uma das responsáveis pelo evento. A programação acontece de hoje até sábado, no Cine Teatro Solar Boa Vista e no Largo Pedro Arcanjo e Tereza Batista, no Pelourinho. A realização é da Boom Clap Rec com apoio financeiro da Secult.
Atrações - Para Nelson Maca, professor de Literatura Brasileira na Ucsal e membro do Conselho Estadual de Cultura, os workshops são fundamentais. "É preciso discutir o teor político dos temas, a produção cultural, entender qual a atuação política do movimento, compreender as ações coletivas e pensar o movimento de forma mais ampla". Ele também realiza uma palestra sobre "a questão do verbo e tudo que envolve a palavra dentro do hip hop", explica.
Até sexta a programação começa com workshops, nos quais nomes importantes do cenário nacional e baiano palestram sobre temas diversos. A mesa de abertura, hoje, às 19 horas, conta com MC Daganja, Dj KL Jay, (Racionais MC's), Coscarque e o grupo de break Ananias, dentre outros. Em seguida acontecem as apresentações musicais (ver quadro ao lado).
O DJ KL Jay, além de participar da mesa de abertura, ministra o workshop sobre hip-hop e Mídia e Comunicação, no qual será debatido como os artistas podem se manter na mídia, sem a mídia convencional. "Os temas se complementam. Irei falar sobre as mídias alternativas e como a mídia não é apenas a televisão ou o rádio", comenta.
Hip-Hop na Bahia - Por volta de 20 anos atrás, surgia o movimento Hip-Hop na Bahia, com o primeiro grupo organizado, Posse Orí, que realizava trabalhos sociais. "Antes existiram apenas atitudes individuais", lembra Maca. Para ele, Léo Ornelas e grupos como Elemento X deram uma dimensão política ao Hip-Hop no estado.
Atualmente, a cena se fortalece com nomes como Daganja, Afro Jhow, o grupo de break Ananias, o DJ Bandido e o graffiteiro Limpo, dentre outros.
Segundo o cientista social Jorge Hilton Assis Miranda, integrante do grupo Simples Rap'ortagem, na monografia Relação de mercado e trabalho social no Hip Hop, a cultura surgiu como uma forma de diversão acessível para os jovens de baixa renda, constituindo-se mais tarde como um movimento engajado.
"Entendo (o hip-hop) como um movimento coletivo, de negritude, de periferia e de pessoas lutando pelos seus direitos", opina o professor Maca.
"A cultura hip-hop na Bahia ultrapassou os limites do gueto e hoje é mais uma ferramenta de diálogo que une diversas classes sociais, isso sem precisar perder suas raízes", comenta André Coscarque, MC e organizador do evento.
"Pra mim é um estilo de vida. É algo que vai além da música, da dança e do graffitti. Me mostrou quem eu sou no mundo e em que posição eu estou no mundo", conclui o DJ KL Jay.