Músico já tocou durante 10 anos com Jimmy Cliff e outros nomes da música brasileiras
Foi ainda na infância que o percussionista Gabi Guedes iniciou sua história na música. Com ouvidos atentos aos sons produzidos pelos atabaques dos terreiros de candomblé, o garoto passou a produzir seus próprios ritmos, fruto de uma intensa pesquisa musical. O percussionista já morou na Alemanha e na França - lugares em que estudou e difundiu a música e a percussão da Bahia - e tocou com diversos nomes da música internacional e brasileira, como o cantor de reggae Jimmy Cliff, com quem trabalhou durante 10 anos.
Junto com seu sobrinho, o também músico Felipe Guedes, Gabi idealizou o projeto Pradarrum, que vai levar a mistura de ritmos tradicionais do Candomblé com instrumentos do jazz e batidas afro-beat para as cidades de Feira de Santana, neste sábado, 16, Salvador (dia 24) e Santo Amaro (dia 30), além de oferecer oficinas gratuitas de iniciação musical e elaboração de projetos.
Na entrevista a seguir, o músico fala sobre o projeto, sua formação musical e o trabalho atual na Orquestra Rumpilezz, que ajuda a divulgar a percussão dentro e fora do país.
A TARDE - O que significa Pradarrum?
Gabi Guedes - Pradarrum significa o conhecimento dentro do terreiro. Rum é a última palavra, é o atabaque que acompanha o movimento das danças e tem a batida forte para evocar os orixás. Nós temos o "darrum", uma palavra iorubá, que é quando você toca e canta para chamar as pessoas a participar das canções. Depois vem o "adarrum", um ritmo sagrado que vem de dentro do candomblé. Em seguida, o "pra", que é o som tirado do tambor quando você toca com as duas mãos. Então a palavra nasceu desta junção de expressões.
AT - Como surgiu a ideia de divulgar a música produzida dentro dos terreiros?
GG - Eu já tinha pensado nisto há muito tempo, quando morava na Alemanha e tive contato com outros músicos. Passei um ano e dois meses lá, dando aula de percussão e ritmos soteropolitanos. A mistura que os músicos mais novos fazem é legal, mas também é bom conhecer os ritmos originais. Aqui em Salvador também trabalhei com isso, com o intuito de não deixar os ritmos se perderem. Tem pessoas que não gostam da música do candomblé, mas isto acontece porque eles não têm acesso à história e ao sentimento desta música.
AT - Qual a proposta deste projeto?
GG - A ideia é criar um novo trabalho para levar as músicas que estão no terreiro para a world music e tentar produzir uma nova música. São cantigas do candomblé, com uma roupagem que traz outros instrumentos harmônicos, mas com a mesma originalidade do terreiro. Fui descobrindo esta música em casa mesmo, ensaiando com meu sobrinho (o guitarrista e arranjador Felipe Guedes).
AT - Você vai realizar shows e oficinas de música em parceria com Felipe Guedes. Como é trabalhar com ele?
GG - Assim como eu, Felipe nasceu no meio dos instrumentos. Quando ele tinha três anos, já tirava um som na bateria. Uma vez flagrei ele com uma raquete como se fosse uma guitarra. Então, quando voltei de uma viagem à Europa, trouxe um violão para ele. Ele é talentoso e ajuda a fortalecer o projeto.
AT - O projeto foi contemplado por um edital da Fundação Cultural do Estado e vai percorrer as cidades de Feira de Santana, Santo Amaro e Salvador. Vocês já estão pensando em ampliar este alcance?
GG - A gente está correndo atrás mesmo. Foi muito legal ser contemplado pelo projeto e fico muito feliz em tocar em Santo Amaro. Minha mãe, inclusive, é cachoeirana. Tocar em Salvador também é muito bom, principalmente para as pessoas que gostam dos terreiros. Nossa ideia é continuar com o projeto, e será um grande prazer se eu for contemplado outras vezes para me apresentar fora de Salvador. No Brasil inteiro existem pessoas que estudam sobre nossa cultura e é legal passar os conhecimentos que tive com Mãe Menininha do Gantois, além de ajudar as pessoas a tocar com responsabilidade.
AT - Você inicou a sua experiência musical muito cedo e já tocou com grandes nomes da música internacional e brasileira, como Jimmy Cliff, Margareth Menezes, Lazzo, Gerônimo, Raimundo Sodré, Armandinho, Paulo Moura e Hermeto Pascoal. De que forma estas experiências contribuíram para a sua formação musical?
GG - Minha relação com a música começou aos 9 anos de idade, quando eu participei de uma peça de teatro e já tocava e dançava. Comecei a estudar mais, ouvia muito (o guitarrista e compositor mexicano) Carlos Santana e fui trabalhar com a escola de dança Ebateca, fazendo percussão e sonoplastia. Depois comecei a criar ritmos para coreografias e trabalhei com coreógrafos renomados, até partir para a música.
Tudo funciona como uma caixinha, onde você vai aprendendo e guardando ali dentro. Tem que aproveitar as oportunidades, conhecer as pessoas e ter respeito pelo trabalho delas, que assim elas te ajudam a crescer. Uma vez o Jimmy Cliff falou para mim: "Você eleva o meu espírito". Eu tocava há três anos com ele, agradeci e a gente continuou trabalhando durante 10 anos. Quando você joga com respeito, as coisas acontecem.
AT - Como você analisa o trabalho da Orquestra Rumpilezz, da qual você faz parte, que destaca e prioriza a percussão em detrimento dos instrumentos de sopro?
GG - É muito legal trabalhar com Letieres (Leite, maestro e fundador da Orquestra Rumpillez). Isto é uma coisa maravilhosa que está acontecendo e já deveria ter sido produzida há muitos anos. Se existe a Orquestra Sinfônica da Bahia, porque não se tocava a música original e africanizada de Salvador? Talvez se eles tivessem ouvido um pouco mais a nossa cultura, já teriam montado várias outras orquestras e grupos. Letieres está contribuindo muito para que outras pessoas pesquisem mais a nossa cultura e nossos ritmos.