Pablo Lapidusas gravou as nove músicas do CD em seis cidades
Estrangeiro é o nome do álbum e, por muitos motivos, ele se encaixa com perfeição nas características do segundo disco solo do pianista argentino, criado no Brasil, Pablo Lapidusas.
Primeiro, porque o músico é argentino, cresceu em Minas Gerais, graduou-se em São Paulo e mora em Lisboa, onde faz mestrado e tem o mundo como palco, rodando com turnês nas bandas de nomes como Eduardo Dussek, Zezé Motta, Wanda Sá, I Musici de Montreal, Jimmy Dludlu, Célia Vaz, Victor Biglione, Quarteto em Cy, Edu Lobo, Carlos Malta, Bena Lobo, Sandra de Sá, Cesar Camargo Mariano, Hermeto Pascoal e, mais recentemente, Marcelo D2.
Outro motivo é ter gravado o disco em seis cidades: Lisboa (Portugal), Rio de Janeiro (Brasil), Bueno Aires (Argentina), Maputo (Moçambique), Los Angeles (EUA) e Londres (Inglaterra). Mas, além disso, chama a atenção o repertório cosmopolita, diverso, sem fronteiras e atemporal, que mistura o erudito com o pop em jazz, com uma propriedade ímpar e muito talento.
"Achava complicado gravar com tantos pianos, por causa das sonoridades diferentes. Depois pensei que o pianista é o único músico que, quando sai para tocar, não usa o seu instrumento. São sempre reações diferentes e resolvi usar isso a meu favor", explica, em entrevista por telefone.
Ao todo, são nove faixas compiladas em virtuosos 38 minutos de piano solo. E, para ele, isso basta. As canções ganham nova forma e introduções particulares, mas são reconhecidas pelo ouvinte de maneira natural.
Lapisusas não peca pelo excesso em mostrar malabarismo em cima do teclado. Prefere trabalhar as músicas com elegância e respeita a história das versões originais. É um jazz tocado com simplicidade e precisão e que valoriza a essência da composição escolhida.
Entre as faixas, um caldeirão de diversidade, com o qual ele consegue transitar bem por Duke Ellington (Caravan), Chico Buarque (Gota D'Água e O Futebol), Gilberto Gil (Sítio do Pica Pau Amarelo), Tom Jobim (Chovendo na Roseira), Ennio Morricone (Cinema Paradise), Edu Lobo (Upa Neguinho), João Carlos Schwalbach (Baila Ballet) e Lennon & McCartney (Blackbird). Essa última, gravada no cultuado estúdio 2 de Abbey Road, mesmo dos Beatles.
"Foi um sonho como beatlemaníaco gravar ali e usar o mesmo piano. Na verdade, fazer o disco em tantos lugares acabou sendo um acidente muito positivo, já que a ideia inicial de fazer tudo num lugar só foi abortada após uma incompatibilidade artística com o antigo produtor", disse.
Depois de um álbum autoral (Ouriço, 2011), Pablo Lapidusas mostra personalidade ainda nas introduções compostas para cada faixa. "Foi uma maneira de dar unidade ao disco e mostrar minha marca". E funcionou.