Walter Queiroz aguarda a oportunidade de lançar um novo CD, "Umas Bossas e Outras Novas"
Neste sábado, 18, Walter Queiroz recebe alguns amigos mais chegados em casa para comemorar seu aniversário de 70 anos. Mas, para ele, a idade não é o mais importante a ser celebrado. Em conversa com nossa reportagem, ele reivindica reverência a seus préstimos à cultura brasileira, em especial a baiana.
A lista de feitos, claro, é encabeçada pela criação do lendário Jacu, coisa de meio século atrás, em parceria com amigos como Joildo Barbosa e Mário Morgade, com quem já formara o trio de seresta Abaeté.
"Foi um bloco que, quebrando todos os parâmetros de sua categoria, inovou tirando a corda de proteção e tornando-se um espaço de fraternidade e convívio de todos", ele define, lembrando que cabe ao Jacu também o posto de pioneiro no uso da mortalha e da criação de música própria.
Também entra na conta uma certa subversão, como a exibição de uma faixa que resultou em cadeia por melindrar as famílias de bem da Salvador de 1964. Estava escrito o singelo slogan "Há Jacu no pau".
Ele não esconde o sorriso faceiro ao repetir o cacófato. Mas fica sisudo ao falar do Carnaval ao constatar que hoje não haveria lugar para um bloco sem cordas puxado por uma banda de metais em cima de um caminhão.
"Tenho todo respeito por Armandinho, Dodô e Osmar. Mas, de herói, o trio elétrico se tornou um predador", protesta.
Ex-advogado
O tom combativo, pelo que ele conta, não é muito diferente daquele usado no discurso de formatura na Faculdade de Direito na Universidade Federal da Bahia, em 1967. "Se fosse um ano depois, poderia ter custado minha vida", avalia.
Mas eis que a carreira na advocacia não duraria muito tempo. Foi encerrada precocemente aos 27 anos, não por falta de vocação, mas por ter se deixado seduzir pela música popular brasileira.
Ao lado de parceiros como o maestro Antônio Fernando Burgos Lima e seu irmão, o músico Durval Burgos, Queiroz marcou presença em importantes festivais musicais daquela época, incluindo o 5º Festival de Música Popular Nordestina, do qual saiu vencedor.
Filho da Bahia
Uma temporada de 17 anos no Rio de Janeiro facilitou a aproximação com músicos importantes daquela geração, como a dupla Antônio Carlos e Jocafi. "São pessoas das quais não posso esquecer, por gratidão", enfatiza.
Embora vivesse em constante intercâmbio com a Bahia, por conta dos compromissos carnavalescos com o bloco Jacu, era grande a saudade. "Comecei a compor mais sozinho. Quase sempre aquele sentimento de expiação da dor da partida", lembra.
É dessa safra a inesquecível "Filho da Bahia", gravada por uma então anônima paraense de apenas 17 anos. Era Fafá de Belém. "É um ícone da minha vida. Foi a música que me consagrou", reconhece. "Mas não é a minha predileta", arremata.
A canção dona desse posto é "Tesoura Cega", que lhe rendeu o primeiro lugar em um concurso do extinto programa de Flávio Cavalcante, na antiga TV Tupi. "Ganhei de Carlos Lyra e João Nogueira", orgulha-se.
Novo CD
Outras experiências musicais importantes viriam, ao lado de parceiros como João Donato. A publicidade também se revelou um campo promissor para seu trabalho de composição, em forma de jingles.
Mais recentemente, a composição deixou de ser suficiente. "De uns dez anos para cá resolvi assumir minha condição de intérprete que eu soneguei. Não tinha me dado conta da beleza do meu timbre", avalia. Apostando nisso, Walter Queiroz tem feito shows esporádios em Salvador. Para breve promete o lançamento de um novo CD, "Umas Bossas e Outras Novas".