Chico Castro Jr.
Marcelo Jaffé, Betina Stegmann, Luis A. Montanha, Nelson Rios e Robert Suetholz
Se hoje em dia tem música do mês passado que já esquecemos, antigamente não era assim, não. Obras de arte eram feitas para durar séculos. Está na cidade o Quarteto de Cordas Ensemble SP e o clarinetista Luis Afonso Montanha para não nos deixar mentir.
Nesta quinta-feira, 22, às 20 horas, no Teatro Acbeu, esse quinteto vai executar uma das mais belas e complexas peças do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897): o Quinteto para Clarinete e Cordas - Opus 115.
Escrita em 1891 (há 124 anos, portanto), a peça em quatro movimentos (Allegro, Adagio, Andantino e Con Moto) foi fruto da admiração do compositor pelo clarinetista contemporâneo Richard Mühlfeld (1856-1907).
Brahms inspira
Consta que o homem era tão "fera" no seu instrumento que fez Brahms desistir da aposentadoria a que tinha se retirado um ano antes (1890), para voltar a compor, inspirado por Mühlfeld. O resultado é a obra que será possível ouvir. "A gente faz uma versão totalmente baseada no clarinete, com pouco vibrato e em velocidade rápida", conta a violinista Betina Stegmann.
"Até por que a escrita do Brahms é toda baseada no clarinete, tem uma coisa de tocar com muita agilidade e leveza, como se nós também estivéssemos tocando clarinete", acrescenta.
Mas nem só de Brahms se faz este concerto. O quinteto também fará mais duas peças contemporâneas, escritas justamente para dialogar com a obra-prima alemã: Chuva e Depois, de Luca Raele, e Apenas um Momento Lírico, de Aylton Escobar.
"Logicamente, a peça (de Brahms) tem melodias que inspiraram tanto o Escobar, quanto o Luca. Eles pegam as notas e dão sua versão", diz.
"A do Luca é uma peça extremamente livre, a ideia (para os músicos) não é estar junto, mas em comunhão, cada um no seu ritmo. Ela nos deixa super à vontade, sem stress. É muito boa para paulistano que vive estressado", ri a simpática argentina.
Leveza
Já a peça do Aylton Escobar parece algo mais ambicioso, contando inclusive com a intervenção de sons pré-gravados em CD. "A gente toca com uma base pré-gravada por nós mesmos, que define o tempo da música. A gente tem que entrar nesse tempo. Ela soa aleatória, mas é muito precisa como composição", explica Betina.
No teatro, estará à venda o CD gravado pelo quinteto com as três obras do concerto, atividade que foi um desafio para a violinista: "Outros cem grupos já gravaram essa peça do Brahms, que é um romântico alemão pesado, sinfonista, muito encorpado. Mas esse quinteto em seis por oito tem mais leveza", conclui.