Chico Castro Jr.
Jerry Adriani toca maracas durante a gravação do DVD
Artistas consagrados, com público fiel e décadas de carreira, geralmente, seguem um de dois caminhos. Ou se acomodam no trono como um rei, gravando a mesma obra por anos a fio, ou se arriscam por novos caminhos artísticos, já que não têm mais nada a provar. Jerry Adriani reafirma, em seu novo DVD ao vivo, que segue o segundo caminho.
Não por acaso, o título da obra, lançada em CD e DVD, é "Outro Jerry Adriani". Gravado em um distinto preto & branco, em um estúdio sem plateia, o show traz Jerry muito à vontade, desfiando um repertório que parece se situar entre a memória afetiva do cantor e canções incluídas para "surpreender" os fãs.
Entre as primeiras há "You've Changed" (sucesso na voz de Nat King Cole), "Lembra de Mim" (de Ivan Lins e Vitor Martins), "Resposta ao Tempo" (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc) e "Georgia on my Mind" (grande hit de Ray Charles), entre outras.
As surpresas ficam por conta de "Sugar Man" (de Sixto Rodriguez, o cantor folk resgatado pelo premiado documentário Searching for Sugar Man), "A Medida da Paixão" (Lenine e Dudu Falcão) e "Judiaria", de Lupicínio Rodrigues.
"Nos meus momentos de folga, eu canto essas músicas em saraus, em casa. Eu toco piano, então a esposa do Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, me ouviu cantando 'Georgia on My Mind' e sugeriu que fizéssemos um CD com esse repertório", conta Jerry por telefone, do Rio de Janeiro.
Para quem já fez álbuns dedicados aos repertórios de Elvis Presley em português ("Elvis Vive", 1990) e Legião Urbana em italiano ("Forza Sempre", 1999), a ideia não seria nada estranha. "Eu sou uma pessoa com uma formação musical bem eclética", afirma Jerry.
"Quando eu era menino, ouvia as canções italianas da minha avó. Na minha casa também tinha serestas, pois vários parentes tocavam instrumentos. Sabe a (atriz) Matilde Mastrangi? Ela é minha prima e os pais dela tocavam, então eram reuniões musicais com muito Orlando Silva, Chico Alves. Tudo isso acrescentou", conta.
Não bastasse, o veterano jovem guardista ainda se dá ao luxo de cantar em cinco línguas diferentes: português, inglês, francês, italiano e espanhol.
"Algumas músicas eu mesmo escolhi, aí fomos compondo (o repertório) de acordo com essa pluralidade de estilos. Por isso, não poderia deixar de cantar em italiano, aí escolhi uma do Pino Daniele que não é muito conhecida, Quando. O triste é que, ao escolher a música, descobri que ele tinha morrido", conta.
Letras polêmicas
Cuidadoso em tempos de intensa vigilância midiática, Jerry quase deixa de fora as canções de Lupicínio, Sixto Rodriguez e Raul Seixas & Paulo Coelho ("Medo da Chuva").
"Raul e Paulo fizeram essa música para mim, na época, mas eu não quis gravar por causa do trecho do padre ("Eu não posso entender / Tanta gente aceitando a mentira/ De que os sonhos desfazem aquilo / Que o padre falou"), conta.
Já a do Lupicínio tem uma mensagem mais forte: "Eu estou lhe mostrando a porta da rua / Pra que você saia sem eu lhe bater". "Claro que sou contra, é uma coisa que retrata uma época passada. Como a música do Rodriguez, que fala de um traficante de cocaína, mas eu não faço apologia de nada disso", conclui Jerry.