Lia é comparada a nomes como Billie Holiday e Sarah Vaughan
Durante a infância, depois de sair do Rio de Janeiro com os pais para vir morar na Bahia, aos cinco anos, Lia Chaves já se comportava como uma artista. Improvisava um palco e uma cortina no meio da sala de casa, pedia para a mãe preparar um bolo e convidava os vizinhos para vê-la cantar.
O que começou como uma brincadeira de criança se transformou em uma carreira duradoura que acaba de completar 35 anos. Ao longo desse tempo, Lia vem acumulando experiências e parcerias, até culminar em trabalhos como o projeto mais recente, o show "Bailão do Tim Maia", que ela apresenta há cerca de um ano em locais como Pelourinho e praças públicas.
"Eu sempre fui fã do Tim. Até que um dia eu conheci o cantor Fábio Stella, que escreveu um livro sobre ele. Então, num show, cantamos uma música do Tim juntos. Mesmo depois de muito tempo, aquilo ficou na minha cabeça. E dez anos depois eu pensei: 'tenho que fazer o 'Bailão do Tim Maia''", conta.
Tendo como referências, além do "Síndico", nomes como Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Gal Costa, Lia desenvolveu um jeito próprio de interpretar canções com uma voz rouca e ao mesmo tempo potente. Mas ela não se apega a rótulos de gênero. "Em um determinado momento, eu descobri que sou uma cantora de matrizes africanas. O jazz, o soul, o blues, o samba, o que vem dessa matriz, eu canto. É assim que me defino".
Experiências musicais
Mas antes dessa descoberta, a cantora precisou experimentar outros estilos. Depois de uma tentativa frustrada em um projeto ao lado de Luiz Caldas, Sarajane e Cid Guerreiro, aos 16 anos, no Rio de Janeiro, voltou para Salvador e conseguiu, poucos anos depois, passar no teste para cantar no trio elétrico Tiete Vips. Depois foi para o bloco Crocodilo, cantar com Jorge Zarath.
No entanto, com a rebeldia e personalidade que lhe são peculiares, Lia Chaves não se acomodou. "Eu queria mais. A minha não era muito aquilo. Não me sentia daquela tribo. Tinha gente maravilhosa, mas alguns zombavam até da forma como me vestia. Mas eu sempre fui uma figura", brinca.
Desde então passou por vários projetos, integrou a banda San Francisco, virou jurada de programa de auditório na TV Itapoan, foi cantora da banda residente do extinto Casquinha de Siri por três anos, entre outras experiências. Mas um dos momentos mais marcantes da carreira aconteceu num lugar especial para ela.

Lia apresenta o show Bailão do Tim Maia no Pelourinho (Foto: Joá Souza | Ag. A TARDE)
"Eu sonhava em cantar no Teatro Castro Alves. E aconteceu nos anos 90, no encerramento do musical 'República Tabaris'. Mas na minha hora de entrar, a emoção foi tão grande que eu esqueci tudo. Fiquei gelada. Mas quando o maestro deu o sinal de ritornelo de novo, eu segurei o microfone e cantei 'Babalu'. O teatro estava lotado e o público enlouqueceu. Meus olhos lacrimejaram na hora", recorda.
Personagens marcantes
Hoje, aos 52 anos, Lia Chaves estampa na face a alegria de celebrar os 35 anos de carreira. Ao pensar nesta trajetória, lembra com carinho de personagens marcantes.
"Eu estava fazendo show no Casquinha de Siri. De repente chega uma van. Eram os músicos do Ray Charles, que fazia show aqui. Eles entraram e tocaram com a gente. Foi uma grande festa. No fim, acabei indo tomar café com eles no hotel, onde conheci o próprio Ray", lembra.
Outro encontro memorável aconteceu com Hermeto Pascoal, que a batizou de "Blueswoman Brazuca". "Foi depois de uma das edições do "Festival de Música Instrumental da Bahia". E a gente foi parar no French Quartier, no Jardim dos Namorados. Tocamos a noite toda. Já tinham apagado as luzes, os garçons estavam arrumando as mesas, e a gente lá, eu cantando e ele no piano. Foi especial", diz.
Outros parceiros que fizeram parte desses 35 anos reconhecem o valor musical de Lia Chaves. "Para mim, ela está no nível de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Tem uma voz poderosa. Ela é capaz de transformar a música mais feia na música mais bonita", opina o cantor Gerônimo.
"Ela é a diva da Bahia. Eu comparo ela com as grandes cantoras americanas, com um vozeirão e garra no palco. Ela é maravilhosa", completa o cantor e compositor Raimundo Sodré.
Em comemoração pelos 35 anos de carreira, Lia Chaves se prepara para transformar o "Bailão do Tim Maia" em disco. Atualmente, o projeto está em fase de captação de recursos. "Já está tudo pronto, só falta o patrocínio", diz a cantora.
Lia também participa de um projeto em nível nacional. Segundo ela, ainda é uma surpresa que será revelada na segunda quinzena de agosto.