"Ao fim de Ramble On, a explosão de alegria foi total. Parecia um gol decisivo em final de campeonato".
O Led Zeppelin é minha banda favorita há pelo menos 15 anos. Só que, instintivamente, dentro de mim, esta minha admiração era como se fosse por uma lenda. Afinal, a banda acabou em 1980 e eu só nasci em 1982. Era assim que eu enxergava o Led Zeppelin: uma lenda!
Eis que, em 2007, eu morando em Londres, surge a noticia, por volta de outubro, que o Led Zeppelin faria um show único na cidade. A princípio, marcado para meados de novembro. Mas foi adiado devido a um machucado na mão de Jimmy Page, o que levou a banda a adiar os ensaios. Mal sabia eu que estava dando uma das maiores sortes da minha vida ali...
O concerto seria realizado em 10 de dezembro. Uma segunda-feira. Nunca vou esquecer! Pela gigantesca procura, os compradores seriam definidos por sorteio. Para participar, era necessário se inscrever pela internet.
Lá vou eu fazer minha inscrição e... o site já estava travado, e as inscrições encerradas. Motivo: em menos de 48 horas, eram mais de 1 milhão de inscritos, sendo que a casa onde o show seria realizado, a O2 Arena, só comportava cerca de 20 mil pessoas. Simplesmente desisti de ir para o show. O Led Zeppelin continuaria sendo uma lenda!
Eu havia trabalhado por seis meses numa empresa que fazia venda de bebidas em arenas multiuso por todo o Reino Unido. Uma dessas arenas era justamente a O2.
Porem, cerca de dois meses antes do show, eu havia começado a trabalhar em outro local por questão de melhor remuneração. Por volta de duas semanas antes do show, eu retornei a esta empresa para fazer alguns eventos ocasionais.
Quando soube que trabalhariam no show do Led Zeppelin, iniciei uma campanha interna para ser fazer parte da equipe no dia. Deu certo!!!
Quando chegou a tal segunda-feira, 10 de dezembro de 2007, eu vivi uma das maiores euforias de minha vida. Assisti ao show do Led Zeppelin! E ainda recebi por isso.
Fiquei posicionado estrategicamente – alinhado com os gestores da casa, claro – com alguns colegas de trabalho num ponto em que víamos o show bem perto do palco, enquanto servíamos parte do público com cervejas pet que carregávamos em uma mochila.
O que presenciei naquele dia, eu carregarei comigo para sempre. Os ingressos custaram no site em média 150 libras (à época, 600 reais). Com cambistas, estava na casa de 1000 libras (4 mil reais). E o público chorava de felicidade ao conseguir um.
As pessoas entravam na arena mais eufóricas do que a torcida do Bahia após uma goleada pelo Brasileirão. Enquanto eu servia as cervejas, conheci gente do mundo inteiro. Gente que viajou milhares de quilômetros só para ver o show. Norte-americanos, alemães, japoneses... e, claro, brasileiros.
Um, em especial, vestia a camisa do Fluminense e parecia uma barata tonta. A felicidade o deixava desnorteado. Fiz logo amizade com ele e acabei descobrindo se tratar de um carioca que residia em Salvador. Foi uma felicidade só! E ele ainda passou a me chamar de ídolo, pois, enquanto pagou feliz cerca de 4 mil pelo ingresso, eu entrei de graça.
Começou o show e, de repente, eu fiquei extremamente nervoso. Enfim, ia descobrir até que ponto a lenda tinha algum fundo de realidade. A banda começou a tocar. A primeira música foi ‘Good Times, Bad Times’. Eu estava petrificado, com a musculatura tensa e medo de ver uma idolatria se desfazer diante de mim. Olhei ao redor e vi 20 mil pessoas travadas da mesma forma, até porque os músicos já haviam passado dos 60 anos. Quase não se ouvia barulho da plateia.
Foi quando me dei conta que meus medos particulares eram compartilhados com o mundo inteiro. O som que vinha da banda, porém, estava limpo, forte e afinado de modo impecável.
Terminou a primeira música e se ouviram imensos aplausos, com num teatro. Para o Led Zeppelin, era pouco. Tanto que, ao começar a segunda música, eu e toda a plateia voltamos a travar. A tensão, embora menor, continuava.
Porém, a segunda música, ‘Ramble On’, foi tocada de modo ainda mais espetacular. Ao fim dela, a explosão de alegria foi total. Parecia um gol decisivo em final de campeonato.
Neste momento, minha musculatura relaxou. A dos 20 mil presentes também. A partida estava ganha. E as 2h seguintes se transformaram em um showzaço de rock’n’roll com nunca imaginei.
No palco, a maior banda de todos os tempos. Na plateia, uma multidão ensandecida, dançando, vibrando, se divertindo e cantando cada pedaço de cada letra.
Na reta final do show, eu e mais dois colegas já estávamos pulando e acompanhando as músicas usando as long necks para imitar baquetas de bateria. Voltei para casa realizado.
Para completar, um ano e meio depois, eu já de volta a Salvador, estava conversando sobre o show num churrasco em família quando um primo comentou de um amigo dele carioca, mas radicado em Salvador, que viajou à época para Londres só para ver o Led Zeppelin.
Eu emendei: “por acaso, esse rapaz é torcedor do Fluminense?”. Meu primo se espantou: “Como você sabe???”. E descobrimos a coincidência! O tal rapaz se chamava Aragon. Uma figuraça!
Semanas depois, meu primo me levou para uma visita na casa dele. Quando me viu, o cara ficou eufórico. Já chegou me servindo uma cerveja e gritando: “meu ídolo! Mentira que você está aqui!”.
Na sequência, me mostrou um pôster gigante do Led Zeppelin na sala e me apresentou à esposa e a outro amigo também presente. Virei um dos signos daquela aventura dele. Por fim, sentamos a turma na varanda e começamos a beber e resenhar por horas sobre o show. Ficou para a história!