Jards Macalé é o único que adiciona voz ao instrumento
Não é todo dia que três mestres na arte de tocar violão se apresentam numa mesma cidade, no mesmo fim de semana. A raridade do fato é que torna tão especial a programação do projeto Cordas Brasileiras, que acontece desta sexta-feira, 8, até domingo, 10, na Caixa Cultural Salvador.
Logo mais à noite, o violonista gaúcho Yamandu Costa, reconhecido como um dos mais virtuosos do país, abre o projeto em uma apresentação única, às 20 horas. No sábado, com sessões às 17 e 20 horas, é a vez do mestre maranhense Turíbio Santos mostrar os dotes que lhe renderam prêmios e mais de 60 discos gravados.
E no domingo, nos mesmos horários, o músico e compositor (entre outras tantas atuações no mundo da arte) Jards Macalé encerra o evento em um show de violão somado à voz.
Cada apresentação leva ao palco expressões diferentes do violão. Yamandu mostra as possibilidades que o instrumento permite por meio de solos e variação rítmica em um repertório de composições autorais.
Já Turíbio explora os valores encontrados na música erudita e popular. "O meu repertório navega sempre por essas duas músicas que são maravilhosas, com compositores como [João] Pernambuco e ao mesmo tempo Villa-Lobos", explica.
Jards Macalé mostra o instrumento da forma como o brasileiro está mais acostumado a ver: o famoso voz e violão. "É um repertório de músicas variadas, de Lupicínio Rodrigues, Nelson Cavaquinho e composições que fiz com parceiros como Waly Salomão, José Carlos Capinam e Torquato Neto", revela.
Identidade nacional
As três apresentações podem ser encaradas também como uma ode ao instrumento que ajudou a moldar a identidade musical do país. Apesar de não ser de origem brasileira, o violão deu a cara a gêneros genuínos do Brasil. "Sem ele não existiria bossa nova. Até porque quem fez, no caso, João Gilberto, fez com o violão. O violão foi que possibilitou a ele criar essa batida que é tão pessoal e intransferível", explica Macalé.
Mesmo um tipo de música feita da forma mais simples, fruto da cultura popular do Brasil, se sustenta no toque do violão. "O repente, por exemplo, pode parecer musicalmente muito fácil, mas não importa. O instrumento dá suporte para que você consiga se comunicar e transmitir os seus sentimentos", destaca Yamandu Costa.
Turíbio acredita que a facilidade que o instrumento permite de transitar por vários estilos ajudou a torná-lo tão popular no Brasil. Não a toa ele define o violão como "uma espécie de cachorrinho vira-lata que entra em todos os terrenos".
Mas a popularização do violão também está ligada à fácil portabilidade e à função social que exerce. "É um instrumento que agrega as pessoas. Com um conhecimento básico, você já pode acompanhar milhares de canções e juntar gente para cantar. E aí a comunhão da música acontece, independentemente do teu nível musical", observa Yamandu.
Relação íntima
Para quem toca violão, profissionalmente ou não, o instrumento tem um significado que transcende a relação homem x objeto. É comum músicos se referirem a ele como um parceiro ou companheiro para todas as horas.
"Para mim é a extensão do meu corpo, do meu pensamento, dos meus sentimentos. É como eu consigo transmitir o mundo musical que eu gostaria de ouvir", declara Yamandu.
Essa relação, fiel e duradoura, se entrelaça com a própria vida. "A minha linguagem existencial passou toda pelo violão", diz Turíbio Santos.
Enfim, é uma ligação íntima. Há muito mais para sentir e desfrutar do que para falar e compreender. Por isso, Jards Macalé resume essa relação em apenas três palavras: "violão é tudo".
Yamandu Costa, Sex, às 20h / Turíbio Santos, sáb, às 17h e 20h / Jards Macalé, dom, às 17h e 20h / caixa cultural salvador (Rua Carlos Gomes - Centro) / R$ 8 e R$ 4