A grande maioria que o assiste toda terça-feira no humorístico ?Casseta e Planeta?, na Globo, nem imagina que por muito tempo sua profissão era em cima de papel e caneta. Não como escritor, mas como cartunista. Protagonista de hilários personagens no programa, como ?Devagar? Franco e ?Ótima? Bernardes, Reinaldo reúne agora uma retrospectiva de seus desenhos no livro ?Reinaldo: desenhos de humor?, lançado pela editora Desiderata. Ele lança o livro em São Paulo no próximo dia 07, na livraria Saraiva do Shopping Morumbi.
Na publicação, estão tiras e cartuns realizados no período em que Reinaldo trabalhou no lendário Pasquim, de 1974 até 1985. Ele atribui, inclusive, esta experiência como seu primeiro passo para as telinhas. ?Enquanto ator fui influenciado pelo lado desenhista. Minha primeira experiência foi como ator de telenovela pro Pasquim. Realmente o ator de fotonovela é uma espécie de desenho vivo e eu levei essa experiência do desenho pra fotonovela?, afirma ele, em entrevista à Agência Estado.
Seu editor na época do Pasquim, o Jaguar, foi quem o convenceu a publicar este apanhado de seus desenhos. ?O Jaguar cismou, insistiu para que eu organizasse tudo. Topei, e não me arrependo?, conta Reinaldo, que depois da fase no Pasquim chegou a criar o ?Planeta Diário? com seus colegas de profissão, hoje também no Casseta, Hubert e Cláudio Paiva. Esta publicação, por sua vez, trazia uma linha editorial mais rígida, até por conta do processo de início de democracia que o País vivia nos anos de 1984 e 1985. Desenhos desta fase e de outras, como ?Bundas?, ?Chiclete com Banana? e até do ?Casseta e Planeta? também estão no livro. ?São temas meio malucos, piadas meio do nada, meio surrealistas. O absurdo pelo absurdo?, observa.
Do passado, mas ainda presenteApesar de muitos cartuns terem sido realizados há mais de duas décadas, o leitor não sentirá estranheza. Em ?Reinaldo: desenhos de humor? estão reunidos desenhos que, ?infelizmente?, ainda estão conectados à realidade de hoje. São temas que abrangem a corrupção da política brasileira, o racismo e questões sociais, principalmente a desigualdade. ?Por incrível que pareça, muitos desses desenhos estão voltados até hoje: corrupção, rabo preso de políticos e propina. Toda essas coisas que a gente vê hoje e que estava nos desenhos e ainda ficou muito atual?, avalia, dissociando, entretanto, uma crítica intencional às mazelas do País. ?Eu não fico tentando apontar tanta coisa, tento ser humorístico. Se fosse pra criticar eu faria um editorial, este livro é para ser engraçado?.
Em 128 páginas, divididas em seis seções, o livro também traz momentos de ?Escândalos Ilustrados?, publicado em 1984 pela extinta editora Codecri. Para Reinaldo, o tema principal do livro seria resumido como ?a boçalidade humana de um modo geral?. Mas, como lembra o próprio cartunista e humorista, a publicação também reúne temas mais ameno. É o caso do jazz, que ele mesmo pratica num quinteto do gênero, a Companhia Estadual de Jazz. ?São duas identidades secretas: o desenhista e o contrabaixista?, diz ele, aos risos.
E o que pensam aqueles que descobrem esta faceta cartunista no então humorista? ?Muita gente leva um susto, a maioria não sabia dessa minha face. Mas, felizmente, todo mundo está gostando muito?, responde. Apesar do lançamento, Reinaldo não cogita voltar a ocupar este único posto de cartunista. Diz que ainda consegue conciliar este atividade com a de ator, fazendo desenhos para algumas publicações, como a revista Piauí. ?Só não me proponho a ter uma atividade muito intensa como cartunista, porque é muita coisa ao mesmo tempo?, afirma.
EspaçoAinda assim, ele lamenta o fato de o cartum ter perdido espaço na imprensa. ?O jornal hoje está usando humor para fazer charge, mas um desenho mais solto e descompromissado está realmente difícil achar?, avalia. E emenda: ?Esse cartum de humor puro realmente merecia ter mais espaço. Não sei como, mas tinha que ter publicações que usassem mais isso?.
No ar com o ?Casseta e Planeta?, Reinaldo nega que o programa tenha se desgastado. ?Não ficou estagnado e não caiu numa fórmula. Para estar 15 anos no ar, com esse pique de audiência, a coisa não está piorando?, avalia. E arremata: ?Estamos com nova força para botar pra frente. Claro que não dá para agradar todo mundo, mas tem uma parcela muito grande que a gente ainda agrada?.
Reinaldo: desenhos de humor. (Editora Desiderata). 128 págs. R$ 29,90. Lançamento dia 07 de julho (sábado), às 19h30, na Livraria Saraiva, do Shopping Morumbi. Av. Roque Petroni, 1.089 - São Paulo.