Um Oscar com cara de Grammy. Liderando as indicações para a maior festa do cinema americano, dia 25,
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho estréia hoje ao som de muita música disco em pleno carnaval. Com oito indicações - mas não disputando a de Melhor Filme -
Dreamgirls se inspirou na saga do grupo americano The Supremes, liderado por Diana Ross, que no filme é vivida por Beyoncé Knowles.
Embora a Paramount não faça menção disso, a própria Beyoncé diz que tinha em seu trailer um santuário dedicado a Diana, com filmes e imagens da diva dos anos 60.
O filme é dirigido e escrito por Bill Condon, o Midas dos musicais, que fez Chicago ganhar seis Oscars nas principais categorias em 2003.
Condon se baseou oficialmente no musical da Broadway, que estreou há 25 anos, sobre a vida do trio da Motown na efervescente Detroit da década de 60, embora as revoluções e a causa negra da época só sejam timidamente citadas.
A boa notícia é que as músicas de
Dreamgirls são bem bacanas, até para os não simpatizantes de blues e da disco. A má é que, por ser um musical, estão lá aqueles constrangedores diálogos musicados.
O foco central do início da história está sobre a figura de Effie White, otimamente vivida pela novata Jennifer Hudson. Ela é a líder do grupo The Dreamettes, ao lado de Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose). Elas usam perucas baratas e se apresentam em festivais de Detroit. Em um deles, conhecem Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx), um vendedor de carros ansioso em deixar sua marca no mundo da música. Ele convence as moças a virarem backing vocal de James ?Thunder? Early (Eddie Murphy), que vem alucinando a nova geração com seus hits. Embora relutante, Effie aceita e o grupo começa a escalar, passo a passo, as escadas da fama. Suas músicas são tocadas em rádios famosas e passam a fazer shows em locais freqüentados por brancos. Mas quando chegam à TV, o blues cede espaço para o disco e Curtis, então namorado de Effie, a substitui sem delongas por Deena na liderança do grupo. Mais magra e menos negra, seria ideal para esta mídia ainda dominada por brancos nos EUA, mesmo que ela tenha uma voz ?fraquinha?, como ele próprio diz em um jantar, já milionário, casado com Deena e morando em uma linda mansão.
Effie é expulsa do grupo e Deena Jones and The Dreamettes (Diana Ross and The Supremes) viram um estouro no planeta inteiro.
A partir deste momento, Condon opta por mostrar o tortuoso caminho da fama, as concessões necessárias para se chegar ao topo, o desrespeito aos direitos autorais, o custo artístico e emocional na construção dos mitos e o porquê muitos caem nos vícios no auge da fama. Florence Ballard - a Effie da vida real - morreu antes dos 30 anos na mais absoluta pobreza, ao contrário do enorme clichê da segunda chance ao qual o filme se rende.
Não há nada de novo e original em Dreamgirls, tudo é nostalgia a este gênero do cinema que custa para arrebatar críticas, corações e pés. Por isso, dificilmente o filme repetirá o êxito de Chicago pois pouco se inovou desde então.
As palmas do espetáculo vão quase todas para Jennifer Hudson, que canta com a alma e faz vibrar até o mais insensível dos espectadores. Eddie Murphy também está triunfante e não é à toa que ambos concorrem ao Oscar de Melhor Atriz e Ator Coadjuvantes. Já Jamie Foxx não chega nem perto de sua atuação como Ray Charles, em 2004. E Beyoncé Knowles até que se esforça, mas pobre (e anônima) dela se não fosse assim tão bonitinha.