Elizabeth Savalla está no ar na novela "Alto Astral"
Quase 40 anos depois de estrear na TV como Malvina em Gabriela (Globo), em abril de 1975, Elizabeth Savalla se mantém como um dos principais nomes da emissora e coleciona papéis em produções como Plumas e Paetês (1980), Quatro por Quatro (1994), Chocolate com Pimenta (2003), Amor à Vida (2013) e, atualmente, está no ar em Alto Astral, novela na qual interpreta a mãezona Tina. Coincidentemente, tanto o primeiro quanto o mais recente papel possuem semelhanças com a vida da atriz, pioneira da teledramaturgia.
Em quem você se inspirou para compor a Tina?
Pensei na Renata Vasconcellos (apresentadora do Jornal Nacional) para fazer o cabelo dela na outra fase que a personagem irá passar. Pensei nessa coisa externa, uma mulher chique e legal que é a Renata. Mas, basicamente, a Tina é uma mãezona de quatro filhos. Também tenho quatro filhos, então, tenho essa vivência. Nunca me inspiro em ninguém especificamente. Não consigo me inspirar em uma pessoa, a não ser em alguns casos como o da Tetê Parachoque-Paralama. Para esse papel (na novela Amor à Vida, em 2013), conversei com a Rita Cadilac, para saber como era o mundo das chacretes.
Você se acha parecida com a Tina?
Sou mãe, tenho quatro filhos. Também tenho dois filhos do meu marido. Então, na verdade, temos seis filhos no total. Tenho uma relação com eles parecida com a relação que a Tina tem com os filhos do Manuel.
A Tina vai conseguir reconquistar o Manuel?
Isso só quem sabe é o autor. Nunca digo o que vai acontecer, porque não sei e também não procuro saber. Gosto da surpresa, ela me encanta.
Você tem algum palpite quanto ao segredo que ela guarda?
Nenhum. O que o autor achar melhor, iremos fazer.
Tetê tinha uma barraca de cachorro-quente e a Tina ajuda a administrar uma lanchonete. Você gosta de cozinhar?
Sou péssima cozinheira. Sou muito boa para comprar, e adoro restaurantes. Os restaurantes foram uma invenção maravilhosa. Só vou para a cozinha no Natal. Meu marido gosta de cozinhar, então é ótimo, porque ele faz e fico com a limpeza da cozinha, que acho um pouco chata. Tenho também uma pessoa que cozinha para mim.
Você estreou na televisão em Gabriela. Tem alguma lembrança especial desse papel?
O primeiro papel marca muito. Você nunca esquece. Primeiro porque a personagem tinha tudo a ver comigo. Sempre fui uma pessoa revolucionária, que acredita que precisamos arregaçar as mangas e ir à luta. Sempre odiei a ditadura militar, sempre achei que a minha profissão tinha o poder de fazer as pessoas e o mundo mudarem. Acho que o artista tem uma função política, não no sentido partidário, mas na acepção da palavra. Então, fazer um personagem revolucionário tinha tudo a ver comigo naquele momento.
Quais foram as suas lutas?
Meu pai não queria que eu fosse atriz. Tive de lutar para falar que ia sair de casa. O papel estava muito perto daquilo que vivenciava naquele momento. E, principalmente, porque vim no décimo ano da Globo. Em fevereiro de 2015, completo 40 anos aqui. Não trabalhei em nenhuma outra emissora. Muitos dos amigos que fiz naquela novela mantenho até hoje. Foi uma personagem maravilhosa, que fez grande sucesso e me alçou, já no primeiro trabalho, à posição de protagonista.
Você esperava o sucesso da Tetê Parachoque-Paralama?
Fiz grandes personagens do Walcyr Carrasco (autor) e com o Jorge Fernando (diretor) em outros horários, que não o das 21h. Chocolate com Pimenta, por exemplo, foi um estouro como novela das 18h. Mas a Márcia (Tetê) era realmente uma personagem que agregava vários elementos. Ela tinha sensualidade, era despachada. Tive a grande sorte de estar com um elenco muito bom e coeso.
Tem algum sonho relacionado à televisão?
Gostaria muito de ter um programa de entrevistas no qual pudesse falar para mulheres sobre saúde, direitos da mulher, direitos trabalhistas, por exemplo. Gosto de entrevistar. Digo que se não fosse atriz ou advogada, que também é algo que gostaria de ser, seria repórter. Gosto de perguntar "por quê?", gosto de saber sobre o universo das pessoas, isso me encanta.
Tem algum autor com o qual gostaria de trabalhar?
Em relação aos autores, acho que já trabalhei com a maioria. Não trabalhei com alguns como Manoel Carlos, Gilberto Braga e Benedito Ruy Barbosa. Talvez fosse legal conhecer o universo deles. Já com relação aos personagens, nos últimos 30 anos, fiz teatro ininterruptamente. Tenho um projeto chamado Teatro de Graça na Praça, com o qual levo peças a uma população muito carente, por meio de uma estrutura montada em praças públicas.