Chico Castro Jr.
Cantor faz show no Teatro Hertz
Já há algum tempo que apreciadores notam as semelhanças do lamento negro do blues norte-americano com o lamento do baião nordestino. Em seu novo álbum, o guitarrista baiano Julio Caldas estreita ainda mais essas similaridades.
Adequadamente intitulado Blues, Baiões e Psicodelia, o disco tem show de lançamento neste sábado, 8, às 19h30, no Teatro Sesc Senac Pelourinho. Traz 11 faixas autorais de Julio e parceiros como Emílio Cunha, Bule Bule, Illa Benício, Claudio Diolu (baixista de Julio), além de seu pai, Durval, e o tio, Paulinho Caldas.
"O título é auto-explicativo, mesmo", afirma Julio, que, além de tocar guitarra e uma infinidade de outros instrumentos de cordas, também canta em todas as faixas.
Quem acompanha a carreira deste virtuose sabe que depois do álbum Pitecantropus Erectus (2008) ele não abriu mais a boca em seus discos seguintes, todos instrumentais. "Muitos me veem em Salvador como o cara da música instrumental. E eu tinha mesmo a ideia de produzir meus trabalhos assim", conta.
"Então eu tenho um disco de guitarra baiana (Choro Rock - Circuito Guitarra Baiana, 2012) e outro de viola caipira (o duo Viola de Arame, 2011). Como já os realizei, agora vou fazer o que sou, mesmo. Não vou fazer mais discos pensando no instrumento em si, e sim usar esses instrumentos na minha música", afirma Julio.
Psicodelia do sertão
Gravado com a banda toda ao vivo, nos estúdios WR, Visgo de Jaca e no Teatro Sesc Senac Pelourinho, o mesmo onde toca hoje, o disco é uma tour de force entre as sonoridades do delta do Mississipi e da foz do São Francisco, desaguando em aboios e repentes ao som de guitarra lap steel, banjo e violão de sete cordas.
E como ele mesmo diz, Julio agora faz o que ele bem entende. Assim, o disco apresenta desde canções mais simples e com formato radiofônico, como a bela Juazeiro, até longas digressões no estilo rock progressivo, como nas faixas Não Mais o Fim (com oito minutos) e Mata Ciliar (12 minutos).
"As rádios não vão tocar mesmo, então eu vou fazer como quero, vou tocar de forma livre, sem me preocupar com tempo de rádio", percebe.
"E esse estilo progressivo que você notou é a porção de psicodelia da coisa. A psicodelia está nessas faixas longas com solos de sintetizador. Até por que o progressivo era uma mistura de elementos, de jazz, rock, erudito e blues", diz.
Dito isso, não chega a surpreender que um dos sonhos de Julio era fazer uma banda do chamado prog rock (para os íntimos): "Sempre tive vontade, mas aqui é difícil. Os músicos daqui acham que as vertentes do rock são algo menor, aí preferem tocar jazz", nota.
Enquanto não surge uma oportunidade, Julio segue se definindo como o que de fato é: um guitarrista de blues - e com estilo próprio. "Eu toco blues e esse disco afirma bem isso. A música cantada é uma coisa real pra mim, que meu coração manda, independente de minhas pesquisas na guitarra baiana e na viola caipira. A onda agora é focar no que meu coração manda", afirma.
100% independente
Vale registro também as participações de dois legítimos artistas populares: Miguelzinho Violeiro (em Não Mais o Fim) e Manoelzinho Aboiador (abrindo o CD, em Meu Santo), ambos de Serrinha. "Fui lá gravar os dois", conta Julio.
Cem por cento independente, Blues, Baiões e Psicodelia foi bancado do próprio bolso pelo músico: "Por incrível que pareça, é meu único CD todo independente, sem edital. Claro que contei com a ajuda dos músicos que participaram".
"Agora é levar o show por aí. Toco dia 11 no Quanto Vale o Show? (Dubliner's Irish Pub). Depois é circular, ir para o interior", conclui.