Igor Ribeiro, Makonnen Tafari, Pedro Ubunto, Lukas Kintê, Tiago Calixto, Janaína Noblat, Akani e Erê
Segundo Ricardo Teperman, autor do livro Se Liga no Som - As Transformações do Rap no Brasil, há uma complexidade no estilo, pois a música está relacionada à conjuntura social. "A diferença do rap com relação a outros estilos é que o discurso sobre o lugar social da música está o tempo todo presente, não somente nas letras, mas na postura dos artistas. Um dos elementos do rap é o conhecimento, lutar por uma sociedade mais justa é algo inerente ao hip hop".
Um estilo musical advindo de bairros periféricos, o rap estava associado desde as primeiras batidas à desigualdade social e racismo. No Brasil, não haveria de ser diferente. Para Ricardo Teperman, um marco importante desses quase 30 anos do estilo é a voz crítica.
"O que faz o rap um acontecimento sem precedentes na história cultural brasileira é o discurso crítico irredutível de ruptura e denúncia do abismo social e racial do país".
Em Salvador, nomes como Mr. Armeng, Vandal e DaGanja têm fortalecido o rap baiano. "Quem é que canta a nossa realidade?", é o que Pedro Ubunto, da Verbo & Juízo, provoca e justifica a sua entrada no universo do rap. "Quais são as bandas que cantam aquilo que eu vivo no dia a dia? Acho que as bandas daqui de Salvador cantam realidades próximas a mim, da alegria à tristeza".
É nesse processo de cantar e criticar a realidade que os jovens Akani Santana e Makonnen Tafari, nascidos e criados no Pelourinho, trazem para as letras do Nova Saga as experiências vividas e observadas no Centro Histórico. "A gente sempre teve o despertar de externar a realidade daquele lugar, onde muitas coisas acontecem e poucas pessoas conhecem", conta Makonnen.
Múltiplos discursos
Ao longo dos anos, o rap ampliou suas vertentes musicais e discursivas e, nesse processo, outras temáticas ganharam força. Como defende Makonnen Tafari, "a gente não quer falar somente de coisas ruins, na periferia também tem alegria, tem amor, etc" .
Lázaro Erê, da Opanijé, por sua vez, pontua sobre essa diversidade. "O rap no Brasil surge de uma forma até meio deficiente em relação aos EUA. No Brasil, as pessoas enxergam um lado só. Essas coisas de mesclar com outros estilos, diferentes discursos, os gringas já faziam há muito tempo".
Já o veterano no gênero, mas com uma vertente diferente, Pregador Luo recusa a rotulação de rapper gospel. "Eu comecei a analisar o mundo, observar e questionar, então coloco tais assuntos nas minhas letras, que não são somente de religião".
Para ele, por muito tempo o rap criticou a situação social, mas não apresentou soluções. Por outro lado, o jornalista Teperman acredita que o que Luo faz é algo que vai na contramão do que o rap se propõe ao longo desses anos.
Rap das minas
Outra problemática a ser considerada é que o rap, como outros estilos músicas, foi predominantemente masculino. Por conta disso, não saiu ileso do machismo. Muitas mulheres conquistaram espaços além da dança e roubaram a cena tomando o microfone e determinando pautas.
A rapper Janaína Noblah comenta como muitas vezes, até no estilo de se vestir, para serem aceitas tinham que usar roupas masculinizadas. "Hoje cantamos, não somente questões sociais, mas o que é ser mulher, a violência, o preconceito que sofremos".
A rapper paulista MC Gra pondera sobre as dificuldades que teve ao longo da carreira, mas conquistou seu espaço. Se eu achar que vou conseguir debater um tema de forma rica, vou escrever sobre", diz.
Seguindo esse caminho, com 13 anos, a rapper MC Soffia já é destaque com suas letras sobre racismo e empoderamento feminino. Para ela, é importante utilizar a música para criticar. "Eu espero que a periferia conheça mais o hip hop, que entrem mais crianças e meninas cantando rap".
Considerando a conquista dos espaços midiáticos através do rap, Teperman comenta sobre a nova geração. "Estão tentando manter a verve crítica e, ao mesmo tempo, incorporar outros estilos, transitar pela MPB e inserir o rap no mercado de maneira definitiva, de maneira massiva", diz.
Para Lázaro, da Opanijé, o respeito à diversidade musical dentro do gênero é algo que deve permanecer. "Antes não se podia colocar banda ou mesmo mesclar com outros estilos musicais. Hoje em dia isso mudou, há uma grande variedade de rap", conta.
Nessa batalha, entre erros e acertos o rap segue seus passos. Unindo visibilidade, profissionalização e o olhar crítico da realidade.