Formação atual:: da esquerda para a direita, Pupilo, Toca Ogã, Jorge du Peixe, Dengue e Lúcio Maia
No calor de 42 graus do Rio de Janeiro foi gravado, em dezembro de 1995, o Afrociberdelia, segundo álbum de Chico Science & Nação Zumbi. Pouco tempo antes do início da gravação, a banda se mudou para a capital carioca, com o objetivo de reduzir custos e facilitar a circulação pelo Brasil.
"Todo mundo aglomerado em um apartamento que não tinha muita estrutura. Foi mais fácil de ter rolado e não dado uma merda maior porque a gente era muito jovem nessa época", conta Lúcio Maia, guitarrista do grupo.
Essa convivência intensa dos integrantes na terra do samba e da bossa nova gerou o disco de maior êxito mercadológico, que vendeu 100 mil cópias e emplacou sucessos como Maracatu Atômico, versão da canção de Jorge Mautner, Macô e Manguetown.
A obra, que completa 20 anos em 2016, será apresentada na íntegra - com mudanças sutis nos arranjos - sábado, às 21 horas, no Largo Pedro Archanjo (Pelourinho). Os ingressos para o show já estão esgotados. A apresentação ocorre na véspera do dia que Chico Science completaria 50 anos se estivesse vivo.
Mais groovado e tecnológico, sem perder a pegada rock, o Afrociberdelia possui 23 faixas, sendo quatro versões diferentes de Maracatu Atômico. Essa música, aliás, foi uma espécie de imposição do diretor artístico da Sony, Jorge Davidson.
"A gente estava ouvindo discos grandes. Reflete aquele momento do hip hop. As batidas de Maracatu Atômico, por mais pesadas que sejam, têm uma preocupação maior nos bits", revela Jorge Du Peixe, que não gravou a faixa citada, pois precisou viajar a Recife para finalizar a arte da capa do disco.
Quando a banda embarcou para o Rio de Janeiro, em dezembro, a ideia era reduzir os custos de hospedagem em hotéis. "Um mês de hotel para a banda inteira ficar lá era uma fortuna. A gente viu que essa grana, de um ou dois meses de hotel, dava para alugar um apartamento durante um ano," conta Lúcio.
Gravação conturbada
Essa experiência, porém, foi difícil. Dormindo no chão, comendo quentinha e com prazo para a gravação do disco estourado, a banda chegou a ter problemas internos. "Foi muito conturbado. A gente acabou brigando por causa desse cansaço, dessa estafa".
Para completar a lista de problemas, o orçamento também passou do valor estabelecido pela Sony. "Estava previsto R$ 80 mil e nós gastamos R$ 120 mil. Eles disseram, 'vocês vão pagar'", revela o ex-produtor da banda, Paulo André.
No entanto, Afrociberdelia agradou tanto a banda quanto ao público. "Artisticamente também a gente teve sucesso. Teve uma certa aprovação geral. E a gente ficou muito feliz", completa Lúcio Maia.