Chico Castro Jr.
Morotó Slim, Julio Moreno, Rex e Fábio Rocha: um filme de espião na cabeça
Imagine o filme de espião mais charmoso e ensandecido de todos os tempos, com direito a sequência de abertura, perseguições, lutas e sedução. Cenas ambientadas em locações exóticas como Istambul, Moscou, Hong Kong, Rio de Janeiro, Roma e Havana. Imagine agora a trilha sonora. Ou melhor: não imagine. Os Retrofoguetes já fizeram isto por você.
Em Enigmascope - Volume 1, o grupo instrumental baiano partiu de um roteiro imaginário para um filme de espionagem ambientado nos anos 1960, para criar seu novo álbum - o primeiro desde Chá Chá Chá (2009). E valeu a pena esperar, pois os Retrofoguetes se superaram, fazendo do terceiro álbum sua melhor obra desde o CD demo Protótipo de Demonstração 1 (2002).
"Toda vez que a gente entra (em estúdio) pra fazer um trabalho novo, ele só faz sentido se for para ser melhor que o anterior. Se não for assim, pra quê?", afirma o baterista e membro fundador Rex.
Produzido pelo "Retrofoguete honorário" andré t., responsável por pilotar a mesa de gravação do grupo desde 2002, Enigmascope é também o primeiro registro após uma série de mudanças na formação, hoje estabilizada com os originais Rex e Morotó Slim (guitarra), mais Julio Moreno (guitarra) e Fábio Rocha (baixo).
No disco, o quarteto ainda recebe um pequeno pelotão de músicos convidados de alto gabarito, enriquecendo um absurdo a sonoridade do álbum. Nos metais, há Joatan Nascimento e João Teoria (trompetes), André Becker, Kiko Souza e Ito Bispo (saxofones), Mathias Traut e Gilmar Santos (trombones) - todos coordenados pelos arranjos de Jorge Solovera. Pilotando teclados Hammond B3 e Wurlitzer está o gaúcho Luciano Leães, da banda Acústicos & Valvulados. O produtor andré t. comparece com um Farfisa, e Rudson Daniel (percussão) repete a parceria que vem do Chá Chá Chá.
"Cara, se tivéssemos grana, iríamos além, com mais sopros, cordas, o escambau. Se pudéssemos, teríamos a Osba (Orquestra Sinfônica da Bahia) no disco todo. Talvez a gente consiga isso um dia, quem sabe?", afirma Rex.
Dificuldades ao vivo
A referência à Osba não é por acaso. Pesquisadores do chamado spy jazz, subgênero surgido nos anos 1960 nas muitas trilhas sonoras de filmes e séries de espionagem da época, os Retrofoguetes sabem que o estilo é intrinsecamente ligado às formações orquestrais. "Como a ideia para o disco era uma trilha, queríamos nos aproximar ao máximo de nossas referências, que são os maestros compositores que gravavam com orquestras", diz Rex.
"Acho que esse disco foi o mais bem-sucedido nessa busca por esse som específico. Conseguimos andar mais, ousar mais. Quando gravamos, não economizamos no trabalho. Não nos satisfizemos com o segundo melhor resultado, sempre buscamos o melhor", afirma andré t.
Uma pena é que esta sofisticação toda que o quarteto imprimiu ao álbum dificilmente será vista ao vivo: "Para o disco, não fizemos qualquer tipo de economia. Obviamente, para os palcos, é outro formato. Na maioria das vezes, será só o quarteto mesmo", admite Rex.
Por esta e outras razões, o show de lançamento ainda não tem previsão de data. "Esta é a pergunta mais difícil. A gente gostaria de fazer com todos que gravaram, como fizemos no show do Chá Chá Chá, na Sala Principal do Teatro Castro Alves. Seria realizar o mesmo sonho duas vezes", diz Rex.
"Foi superbonito e obviamente desejamos repetir a façanha, mas não é fácil. Estamos trabalhando para isso. Inevitavelmente (o show de lançamento do Enigmascope), vai ser em um teatro, mas ainda não sabemos qual, nem quando", diz.
Continuação direta dos lendários The Dead Billies, os Retrofoguetes, apesar de todos os percalços e dificuldades, demonstram fôlego criativo de sobra para continuar produzindo por muitos anos ainda. E como o "Volume 1" no título indica, os Retrofoguetes voltarão em breve.
"É como se fosse uma franquia cinematográfica. A gente já partiu para esse disco pensando em dois ou três volumes. É que a gente passou por um hiato grande, foram sete anos entre o Chá Chá Chá e este, os últimos anos foram improdutivos por uma série de problemas. Nossa ideia agora é ter uma produção mais constante e não ficar mais cinco ou sete anos sem gravar", conclui Rex.
Os Retrofoguetes retornarão.