A Cor do Som volta para mais dois shows neste fim de semana
Rio de Janeiro, meados dos 1970. O baiano Armandinho, filho de Osmar (parceiro de Dodô), encontrou musicalmente os irmãos cariocas Dadi e Mú Carvalho. Na época, o vocalista, violonista e compositor do Novos Baianos, Moraes Moreira, estava iniciando a sua carreira solo e montava uma banda para gravar o primeiro disco, de 1975. Então, juntou parte dos instrumentistas que, pouco tempo depois, criou o A Cor do Som.
Inicialmente instrumental, o grupo - formado por Armandinho, Ary Dias, Gustavo Schroeter, Mú e Dadi Carvalho - fez uma inovadora mistura da linguagem regional brasileira e do pop. Agregou chorinho, rock e música clássica. Com essa atitude estética, foi o primeiro conjunto brasileiro a participar do Festival de Jazz de Montreux, na Suiça.
"Levamos o chorinho para uma banda de baixo, teclado e bateria. Nós temos muito rock na nossa informação, somos da geração The Beatles, Rolling Stones, Hendrix", diz Armandinho, em entrevista a esta reportagem de A TARDE. O A Cor do Som permaneceu em atividade intensa até o final dos anos 1980. De lá para cá, reuniões têm acontecido de tempos em tempos.
Nesta sexta-feira, 2, às 19h, o grupo se apresenta na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, e sábado, às 22h, no Armazém Hall, com Alavontê. Os shows fazem parte da turnê Na Estrada, que já rodou mais de 10 palcos do Brasil e ainda não passou por Salvador.
No primeiro dia, eles recebem Carlinhos Brown e Luiz Caldas como convidados. No repertório, os principais sucessos da banda, espalhados nos 11 álbuns, como Zanzibar, Abri A Porta, Menino Deus, Dentro da Minha Cabeça, entre outros hits que marcaram a música brasileira, sobretudo na década de 1980. "São canções lembradas até hoje. É uma celebração com o nosso público", afirma o guitarrista.
Mas também há espaço para novidades, pois os integrantes já têm trabalhado no próximo disco de inéditas, que vai comemorar os 40 anos do A Cor do Som, em 2017. "Inserimos uma ou outra nova. Tem uma música do Mú que está na novela, uma minha chamada Mistura Fina e outra em homenagem a Dominguinhos, parceria com Jota Veloso", revela Armandinho.
Disco novo
Segundo Mú Carvalho, tecladista, a nova obra está sendo gravada em seu estúdio, "nos momentos possíveis, quando o grupo consegue se juntar". Ao todo, sete músicas estão prontas. "Estamos fazendo aos poucos, sem pressa. A sonoridade permanece, o que muda é que atualmente somos músicos muito mais amadurecidos".
Desde os anos 1990, o A Cor do Som volta para shows, gravação de álbum ou DVD. A impressão é que, de fato, a banda nunca encerrou as atividades. Os encontros estão sempre latentes, mas a tendência é que, nos próximos meses, ocorram com mais frequência.
Mú explica como tem sido essa reunião recente. "A gente sempre andou fazendo encontros, mas não continuamos. Porém, dessa vez, apesar de cada um ter outros trabalhos - Dadi na produção de Marisa, Armandinho solo, eu na Globo, Ary e Gustavo dando aula -, a gente sente que agora é diferente".
O guitarrista Armandinho, único membro que mora em Salvador, diz que, em breve, pretende viver em duas casas: uma na capital baiana e outra no Rio de Janeiro. "Fiquei 30 anos entre Rio e Salvador, mais estabelecido lá até. Agora eu quero ficar estabelecido aqui, indo para o Rio. Já estou preparando para 2017, nos 40 anos do A Cor do Som, estar com essas duas cidadanias novamente", conta.
Referências do Rock Brasil
O A Cor do Som tem preciosos legados na música brasileira, tanto coletivamente quanto como expressão individual de cada integrante. Um deles é a influência na cena do rock brasileiro dos anos 1980. "Todo o movimento que veio depois da gente. Se você conversar com Frejat, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, todos eles estavam no gargarejo assistindo aos nossos shows. Somos ídolos dessa galera. Eles sempre falam", diz Mú.
Além de referência para os grupos do Rock Brasil, o A Cor do Som construiu uma originalidade sonora, justamente pela combinação de sons e referências. "Acho que essa é a nossa principal colaboração. Tem quem seja excelente instrumentista e não tenha isso. Então acho que essa é a coisa mais importante e a gente tem. É o que fica para a história", fala Mú. "É importante mostrar a renovação que fizemos para as novas gerações", completa Armandinho.