O fotógrafo lambe lambe era visto em diversas ruas de Salvador
A Bahia, é fato, já teve papel de destaque no cenário brasileiro e durante um período foi vanguarda nas áreas de música, do teatro, da dança, da culinária, da arquitetura, entre outros setores. Ao longo de um tempo, entretanto, o imaginário construído desta Bahia de luz própria foi afetado por mudanças socioeconômicas, culturais e ambientais e o desenho de uma estado menos atraente e intolerante se impôs.
Para refletir sobre esta Bahia de ontem, amada, apesar de provinciana, e levantar aspectos que possam contribuir para entender a Bahia moderna, que guarda os dilemas das grandes metrópoles, acontece, nesta terça-feira, 29, o seminário O quê que a Bahia tinha!?, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – IGHB, das 14h às 19h.
Crônica de A TARDE
Coordenado pelo jornalista Luís Guilherme Pontes Tavares, autor da iniciativa, o encontro será mediado pelo poeta e compositor baiano Walter Queiroz, o Waltinho. Ele é autor da crônica de inspiração do tema do seminário, Terra do já teve, publicada em A TARDE (23.07.2016, p. A3).
Farão parte do seminário o economista Armando Avena, a escritora Aninha Franco, o agitador cultural Dimitri Ganzelevitch, a jornalista Doris Pinheiro, o professor Edivaldo Boaventura, o jornalista José de Jesus Barreto, o pesquisador Luiz Américo Lisboa Junior e o arquiteto e professor Paulo Ormindo de Azevedo.
A música, a culinária o patrimônio arquitetônico baiano, além da indústria da moda, as profissões que desapareceram e aquelas que surgiram, serão alguns dos temas debatidos pelos especialistas baianos, que, além da memória afetiva, se alicerçaram em pesquisas para debater o tema, o que deverá gerar profícuas e agradáveis discussões.
Pitangas
“Os convidados não vão só chorar as pitangas. Vão refletir sobre a Bahia atual. Vão sinalizar como a gente pode construir uma Bahia bem melhor”, afirma o jornalista Luis Guilherme.
O compositor Waltinho Queiroz, que vai cantar o poema Rua de Brinquedo, afirma que o seminário “será uma reflexão profunda sobre as perdas que a Bahia vem amargando ao longo do tempo e a Bahia atual”. O autor lamenta, entre outras perdas da terra, “a pescada do xaréu em Itapuã, que reunia pescadores e os campeonatos esportivos que mobilizavam estudantes universitários no Balbininho”.
“A Bahia deixou de fazer planejamento de longa data nas áreas urbana e econômica”, afirma o economista Armando Avena, que adianta que durante o seminário vai levantar dois temas.
Grandes empresas
“O primeiro diz respeito ao que a Bahia já teve e perdeu. Neste momento vou falar da economia dinâmica, da rede de supermercados e das grandes empresas que, com o tempo, foram desaparecendo”, frisa Avena.
“Tento explicar como a Bahia entrou no processo de modernização e suas consequências. No segundo momento discuto a modernidade e como a Bahia se inseriu nela”, acrescenta Avena. Ele observa que “Salvador é, hoje, uma cidade acuada pela criminalidade”.
A dramaturga e escritora Aninha Franco se debruçará sobre a gastronomia tradicional baiana. “A coisa mais forte de uma cultura é o que se come e muito da culinária tradicional se perdeu. Hoje, por exemplo, todo mundo coloca leite de coco na moqueca de peixe, mas não é original”, diz.
O jornalista José Barreto vai falar sobre profissões que saíram de cena, como a de engraxate, e de novas profissões que surgiram com o mundo digital. Para o pr0fessor Edivaldo Boaventura, “ a Bahia tinha um centro de decisões e não tem mais. Até no turismo foi desbancada no Nordeste”.