Chico Castro Jr.
Maviael Melo: organização, curadoria, apresentação
Cantor e cantador não é a mesma coisa. Para saber a diferença, vale conferir a partir de amanhã o Quarto Encontro de Cantadores no Pelô. Serão dois dias com uma fina seleção de artistas populares de primeira linha, com entrada franca.
Organizado pelo cantador Maviael Melo e pelo jornalista Antônio Nykiel, a quarta edição do festival equilibra bem artistas de renome com outros mais novos ou ainda pouco conhecidos pelo público local.
Entre os destaques, grandes nomes da cultura popular como Xangai, Raymundo Sodré, Juliana Ribeiro, Aiace (na grade de sexta), Pereira da Viola (MG), Em Canto & Poesia (PE), Cláudia Cunha (PA) e Celo Costa (amanhã).
Sem financiamento via edital nesta edição, o Encontro deste ano acabou descolando apoio entre vários parceiros diferentes. “Por ser a quarta edição, o Encontro já tem a credibilidade de alguns parceiros, empresas que doaram valores referentes a cachês de alguns artistas”, conta Maviael.
“O governo do estado acabou entrando via Bahiagás, que vê o projeto como um grande espaço de integração da cantoria. A APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado) contribui com ajuda nas passagens e hospedagens, bem como a CCPI (Centro de Culturas Populares e Identitárias) na cedência da pauta da praça, entre outros parceiros que cederam impressões de camisas, banner, divulgação e mídia”, detalha.
Além disso, amigos e fãs ainda contribuíram via crowdfunding. “Pessoas físicas contribuíram diretamente numa campanha de financiamento do Kikcante, e assim o encontro foi se formando. Claro que é sempre mais difícil trabalhar sem um recurso certo, até porque os valores que serão pagos aos artistas não é o valor real que cada um merece, e sim uma ajuda de custo”, diz.
Artista ele mesmo e dono de sólida carreira na cena da cantoria, Maviael ainda acumula a função de curador do festival, que é um dos maiores do Nordeste em sua seara. “Essa talvez seja a parte mais difícil, principalmente quando não se tem o recurso assegurado. Por outro lado ajuda também, pois a gente sabe com quem pode contar na hora que não se tem grana para cachê”, afirma.
“Esse ano realizamos a Varanda dos Cantadores no Sesi Rio Vermelho, já pensando no encontro. Ela serviu de vitrine para que pudéssemos conseguir parceiros para o Encontro. Com isso, assumimos o compromisso de colocar no encontro todos que passaram pela Varanda, por justiça poética e reconhecimento da parceria”, detalha Maviael.
Se há uma lógica para os cantadores que estão se lançando, esta também se aplica aos já consagrados. “Vamos na mesma ótica de trazer os mais próximos, como Maciel Melo, Raymundo Sodré e Pereira da Viola, que estreia no Encontro junto com o grupo Em Canto & Poesia, que promete ser a grande surpresa desse ano – e ainda Dani Lasalvia, que vem de São Paulo”, diz.
Incelente maravia
Cantador e violeiro consagrado em sua terra, Pereira da Viola traz em sua arte a tradição da Comunidade Quilombola de São Julião (Teófilo Otoni, Minas Gerais). “Já estive em Salvador outras vezes, mas desta vez sinto que será muito especial. Principalmente pelo momento em que a parcela majoritária da humanidade se vê enterrada no individualismo e consumismo, ter a oportunidade de fazer parte de um evento que se propõe o inverso é muito bom. Estou preparando uma performance especial e o meu desejo é que seja uma ‘incelente maravia’, afirma.
Representante feminina (entre cinco cantadoras) no Encontro, Aiace (Sertanília) destaca a importância da cultura do sertão. “É a oportunidade que temos de cantar e saudar raízes bem profundas, um recorte cultural importante da nossa história, mas que nem sempre tem papel de destaque. Essa música que tem sua origem longe do mar, no sertão, estará no meu repertório. Faremos músicas do Sertanília, do mestre Elomar e algumas coisas do meu trabalho solo também”, conta.
“Acho que hoje estamos mais atentos e abertos para receber os trabalhos dessas mulheres. E o Encontro de Cantadores, nesse sentido, já vem nesse movimento de trazer cantadoras há algum tempo, o que é superimportante para fortalecer esse espaço que, embora tenha as suas representantes, ainda é muito mais masculino do que feminino. Representatividade importa muito e ter esse espaço dentro da programação desse Encontro é bem precioso”, afirma.
Mas, afinal, o que difere um cantador de um cantor? Pereira da Viola tem uma incelente resposta: “Cantador não escolhe o seu cantar, canta o mundo que vê e que sente. Canta a dor, canta a vida, canta a morte e canta o amor”, conclui.