Glenda Nicácio e Ary Rosa, cineastas formados pela Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) tiveram seu filme 'Ilha' selecionado para a mostra
Tudo pronto para começar nesta sexta-feira mais uma edição do tradicional Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sua 51ª edição. É um dos festivais mais antigos e importantes do país, que tem apostado nos últimos anos em uma seleção autoral e vigorosa da produção brasileira contemporânea.
Em um momento em que a Agência Nacional de Cinema (Ancine) restringe o apoio estatal a diretores e produtoras de maior porte, eventos como o Festival de Brasília seguem apostando em filmes de jovens realizadores, descobrindo e potencializando as discussões em torno de uma produção audiovisual marcada pelo risco e pela diversidade de temas e propostas estéticas.
Este é o caso de Glenda Nicácio e Ary Rosa, cineastas egressos do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) que tiveram seu filme de estreia, “Café com Canela”, selecionado ano passado para a mostra competitiva. Este ano, eles repetem o feito e conseguiram emplacar seu mais recente filme, “Ilha”, também na seleção competitiva.
A baiana Gabriela Amaral Almeida também emplacou seu novo longa na competição, “A Sombra do Pai”. Produzido em São Paulo, onde ela reside atualmente, o filme trata da dificuldade de comunicação entre um pai e sua filha de nove anos, com pitadas de suspense e horror, como tem sido comum em seus filmes.
Completando o tour baiano de longas, “Orin – Música para os Orixás”, de Henrique Duarte, será exibido na mostra paralela “A Arte da Vida”, dedicado a filmes que refletem processos criativos que se entrelaçam à vida dos seus personagens. O filme busca desenhar a influência das músicas tocadas nas festas e rituais de candomblé na formação da música popular brasileira.
E vale destacar que dentro do Festival de Brasília acontece também o Festival Universitário (FestUni), que exibe curtas de jovens realizadores estudantes de faculdades de cinema do Brasil. Há três representantes baianos na mostra este ano: “Barco – Do Outro Lado da Memória”, de Maurício Ricardo (UFBA); “Sair do Armário”, de Marina Pontes (UFRB); e “Mãe?”, de Antônio Victor (UFRB).
Diversidade
Para além da diversidade temática e formal dos filmes selecionados, um dado importante para esta edição revela que 52% dos filmes selecionados têm mulheres na direção, contra 38% de homens (os demais se inscreveram na categoria não-binária, quando não querem se enquadrar em um gênero definido).
Segundo Eduardo Valente, diretor artístico e responsável pela equipe de seleção dos filmes, “a curadoria apenas seguiu a sua missão de encontrar os filmes que acredita mais potentes para o evento, e que o fato de termos mais filmes dirigidos por mulheres entre os selecionados representa tão somente a força do talento das mesmas”, comentou.
Outros destaques da seleção de longas da mostra competitiva são filmes que já passaram por importantes festivais internacionais. São o caso de “Temporada”, do mineiro André Novais Oliveira, selecionado para o Festival de Locarno, na Suíça; “Los Silencios”, de Beatriz Seigner, exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes este ano; e Bixa Travesty, documentário de Claudia Priscilla e Kiko Goifman exibido no Festival de Berlim.
Completam a seleção os demais longas: “Bloqueio”, de Quentin Delaroche e Victória Álvares; “Luna”, de Cris Azzi; “New Life S.A.”, de André Carvalheira; e “Torre Das Donzelas”, de Susanna Lira.
Homenagens
Há dois ano, o festival criou a medalha Paulo Emílio Salles Gomes, uma forma de reverenciar grandes nomes do cinema brasileiro na programação do festival. Este ano a distinção será conferida para o crítico e professor de cinema Ismail Xavier, e também a um dos idealizadores do Festival de Brasília e pioneiro da cidade, o arquivista Walter Mello.
Além disso, a fim de celebrar figuras femininas marcantes do cinema nacional, este ano começa a ser conferido também o Prêmio Leila Diniz. Para dar início a esta homenagem, as premiadas este ano são a montadora Cristina Amaral (que possui longa carreira em parceria com Andrea Tonacci, Carlos Reichenbach e o baiano Edgard Navarro); e também a atriz Íttala Nandi, que começou sua carreira no clássico O Bandido da Luz Vermelha, além de diversos papéis marcantes no cinema, na TV e no teatro.
Íttala Nandi também participa como atriz do filme “Domingo”, de Clara Linhart e Felipe Barbosa, obra que abre os trabalhos do festival na noite de hoje. O evento segue até o próximo domingo, 23.