SÃO PAULO - O mercado financeiro doméstico não passará aperto se precisar de dinheiro na segunda-feira, com a retomada dos negócios após dois dias de pesada intervenção de bancos centrais para garantir liquidez ao sistema bancário internacional.
O Banco Central do Brasil devolve às instituições 97 bilhões de reais.
Cerca de 81 bilhões de reais desse total foram retirados de circulação em 19 de julho.
Nessa data, o BC realizou uma operação de venda de títulos federais de sua carteira comprometendo-se a recomprá-los em 13 de agosto. O dia chegou.
O vencimento da operação compromissada é oportuno, levando-se em conta a turbulência nos mercados internacionais decorrente de perdas de instituições financeiras no segmento de crédito imobiliário.
O BC normalmente faz rolagem da venda temporária de títulos e na segunda-feira não será diferente.
Participam da rolagem as instituições que podem prescindir dos recursos, mas o mercado brasileiro não está passando qualquer apuro por aperto de liquidez ou por necessidade adicional de recursos para garantir, por exemplo, inesperados resgates de aplicações financeiras.
Os recursos pertencem às instituições financeiras e foram acumulados ao longo do tempo a partir de vencimentos de títulos federais que não foram substituídos pelo Tesouro Nacional e, principalmente, pelo pagamento feito pelo próprio BC aos vendedores de dólares em leilões diários.
O BC é comprador rotineiro de divisa no mercado interno.
CONFORTO NA CONTRAMÃO
A devolução de 81 bilhões de reais ao mercado (recursos que ficaram com a autoridade monetária por mais tempo) não esvazia o cofre do BC, que há aproximadamente dois meses mantém em seu poder cerca de 200 bilhões de reais.
Esses recursos são considerados "sobra" de reais nas reservas bancárias em relação ao estoque de títulos federais a ser financiado pelas instituições.
Sinal de que o mercado brasileiro não passa aperto é o resultado de mais uma intervenção diária do BC no mercado aberto na última sessão da semana.
Nesta sexta-feira, o BC recolheu 16,2 bilhões de reais que estavam nos bancos e sem aplicação definida. Do total, quase 15 bilhões de reais também voltam aos bancos na segunda-feira.
INTERVENÇÕES CAMBIAIS
O tesoureiro de um banco estrangeiro instalado no Brasil, que prefere não ser identificado, não descarta a possibilidade de a crise de crédito focada nos Estados Unidos --com efeito irradiado ao sistema bancário europeu-- frear o ingresso de capital estrangeiro no Brasil no curto prazo.
A turbulência externa, deflagrada em 26 de julho, já teria provocado a retração de grandes investidores institucionais.
A indicação dada pelo tesoureiro é confirmada por dados da expansão monetária atualizados periodicamente pelo BC.
Desde junho, o BC vem desacelerando o ritmo de suas intervenções no mercado cambial.
Nos primeiros três dias de negócios em agosto, o BC emitiu reais suficientes para comprar cerca de 667 milhões de dólares, ou 222 milhões de dólares ao dia.
Se for mantida essa média diária nas próximas semanas, agosto será consagrado o mês de menor intervenção da autoridade monetária no câmbio em 2007. Até o mês passado, janeiro ocupava esse posto, registrando compra média diária de 230 milhões de dólares.
OLHAR ESTRANGEIRO
Njundu Sanneh, analista do grupo da Moody's que calcula o risco implícito nos preços dos ativos financeiros, afirma que os bônus soberanos e os seguros contra inadimplência do Brasil (credit default swaps), incluindo as emissões globais em moeda local, tornaram-se uma interessante oportunidade de compra após a recente onda de vendas.
Sanneh explicou que o Brasil representa um dos mercados emergentes com melhor rendimento, mostra Walter Brandimarte, da Reuters em Nova York.
"Os investidores que acham que o pior passou em termos de volatilidade podem considerar as compras agora", avalia o analista.
Jeff Grills, gestor de fundos no JP Morgan Asset Management, também consultado em Nova York, considera que os fundamentos da dívida dos emergentes são fortes e os fundos que investem nesse tipo de ativo ainda estão atraindo algum fluxo, apesar da turbulência provocada pela disseminação da crise no setor de hipotecas de alto risco dos EUA.
AGENDA DA SEMANA
Segunda-feira -- Relatório Focus, balança comercial (2a semana agosto), IBGE divulga Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (junho);
Terça-feira -- IGP-10 (agosto);
Quarta-feira -- IBGE divulga Pesquisa Mensal do Comércio (junho), FGV divulga Sondagem Industrial-Quesitos Especiais;
Quinta-feira -- IPC-S (2a leitura agosto);
Sexta-feira -- IPC-S Capitais (2a leitura agosto).