Folhapress
São Paulo Em garrafas PET de dois litros, vendidas a R$ 3,50 cada uma, a gasolina boliviana passou a ser comprada clandestinamente por motoristas e motoqueiros em casas, borracharias e pequenos comércios de Corumbá (MS), na fronteira do Brasil com a Bolívia. No país vizinho, o litro estava em R$ 1,25 na metade deste mês. A gasolina brasileira, em Corumbá, custava R$ 2,76.
A fronteira com a Bolívia não é a única em que brasileiros recorrem à gasolina estrangeira, contrabandeada ou não. O mesmo acontece nas divisas com a Venezuela e com a Argentina.
O desempregado Eduardo (que preferiu não dar o sobrenome), 56, que disse vender diariamente 200 litros de gasolina boliviana na porta de sua casa, no bairro Popular Velha, em Corumbá. Ele contou que compra por R$ 1,17 o litro na Bolívia e o revende por R$ 1,75.
Eduardo nascido na Bolívia, mas com filhos e netos brasileiros conta com a ajuda de dois bolivianos, um brasileiro e um menino para atender os clientes. Usando como funil uma garrafa cortada, a equipe enche os tanques. Mas, se os clientes preferirem, podem levar as garrafas cheias.
É um negócio temporário. Estou há quatro meses nisso. Dá para defender a carne, afirma Eduardo, sentado em uma cadeira na porta. Diz ganhar R$ 500 por mês. Entre meus clientes há empresários e policiais, afirma.
A reportagem também confirmou a venda de gasolina em outras duas casas e em uma borracharia em diferentes pontos da cidade. Uma das casas fica atrás do quartel do Corpo de Bombeiros. Não há placas anunciando a venda de combustível, mas o comércio é de conhecimento da vizinhança. O preço não varia.
REVOLTA O gerente comercial do Sinpetro (sindicato estadual do comércio de derivados do petróleo), Márcio Araújo, e o empresário João Luiz Miguéis, 65, dono de quatro postos na cidade, estimam que os 15 postos de combustível de Corumbá deixam de vender pelo menos um milhão de litros por mês, ou seja, 40% do que vendem hoje.
Embora a revolta de empresários seja contra o comércio clandestino de gasolina em casas de Corumbá, os principais concorrentes são postos da Bolívia, a menos de 10 quilômetros de distância, onde os brasileiros abastecem seus veículos. Segundo a Prefeitura de Corumbá, 3.000 veículos, tanto com placas da Bolívia como do Brasil, passam diariamente pela fronteira.