A classe C está se tornando uma das principais apostas dos empreendedores de shopping centers. Essa faixa de renda vem recebendo investimentos tanto em projetos focados no segmento quanto naqueles voltados para as classes B e C nas periferias dos grandes centros e em cidades de menor porte. Há quem diga que a classe C será o motor do setor de shopping centers nos próximos anos.
Todos os empreendimentos da General Shopping Brasil, por exemplo, são direcionados para as classes B e C, foco que a empresa pretende manter. Grupos com atuação mais tradicional, voltada para as classes A e B, já investem em empreendimentos que têm também a classe C como alvo. É o caso do shopping que será desenvolvido em Maceió pela Multiplan Empreendimentos Imobiliários em parceria com a Aliansce Shopping Centers, destinado às faixas A, B e C. Atualmente, dos quatro empreendimentos em construção da Aliansce, um é voltado para o público da classe C, o Caxias Shopping, localizado no Rio de Janeiro.
Além da expansão da renda, da oferta de crédito e do poder de compra da classe C, o desenvolvimento de shopping centers para esse público pode ser explicado pela elevação dos preços dos terrenos nas áreas consideradas de melhor localização, que levou os empreendedores a buscar oportunidades em áreas com preços menos valorizados, mas com possibilidade de retorno adequado. A própria diversificação geográfica dos projetos demanda que os empreendimentos contemplem as classes B e C, pois o público de classe A é restrito em cidades de médio e pequeno porte, em comparação aos grandes centros.
Para a consultoria Outstretch, a tendência de expansão é forte, pois as classes C e D são carentes de centros de compras voltados especialmente para elas. Segundo a empresa, a proximidade dos shoppings à residência desses consumidores permitirá um menor gasto de locomoção, favorecendo a freqüência. Além disso, um projeto voltado para essas faixas de renda deixa os consumidores do segmento mais à vontade. De acordo com a consultoria, áreas da periferia de São Paulo e Rio de Janeiro apresentam mais oportunidades para shoppings desse tipo, pois possuem alta densidade demográfica e ganho médio superior a áreas de baixa renda de regiões como o Nordeste.
Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), aproximadamente 65% dos centros de compras instalados no País ainda são voltados para as classes A e B. Mas a tendência de expansão dos empreendimentos direcionados para classes C e D é crescente. Para a entidade, o desafio da expansão é aliar a oferta de preço e qualidade a esse público, dado que o conceito de shopping está ligado a sofisticação, conforto e segurança. Na avaliação da Abrasce, é possível alcançar tal objetivo a partir de um conjunto de lojas bem definido e opções de lazer.
No final de abril, por exemplo, o Shopping Taboão, localizado na região metropolitana de São Paulo, inaugurou uma área com mais 50 lojas. O centro de compras, aberto em 2002, tem como público de consumidores das classes C e D, formado principalmente por moradores da região onde está instalado. A Aliansce, responsável pelo empreendimento, espera que o movimento de visitantes no shopping aumente 50% em relação ao período anterior à inauguração, e o faturamento, em torno de 40%. O shopping passou a contar com cerca de 200 lojas, das quais 14 âncoras. Entre novas as lojas do shopping estão unidades da Renner, Marisa e O Boticário.
A Marisa, que tem como um dos focos o público feminino da classe C, aposta na ampliação da rede por meio de shopping centers. Dos recursos obtidos com a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), realizada em outubro de 2007, 41% serão destinados à expansão, prioritariamente em centros de compras. No início deste mês, a varejista anunciou a abertura de três lojas ainda no segundo trimestre. Além do ponto-de-venda do Shopping Taboão, também serão abertas unidades em shopping nas cidades de Taubaté (SP) e Curitiba.
Para a Abrasce, a elevação na taxa básica de juro de 0,5 ponto porcentual, para 11,75% ao ano, não vai inibir o consumo da classe C, pois o consumidor está mais atento ao valor da prestação que ao total a ser pago. Ao menos nos próximos meses, não se espera que a alta seja suficiente para dissuadir os investimentos em shopping para a classe C, até porque o aumento da renda continuará incentivando o consumo dessa fatia da população.