Só em 2004 foram 228.058 casos no Brasil, número 23% superior ao registrado no ano anterior, revela estudo na UnB
CÁSSIA ALMEIDA
AGÊNCIA GLOBO
RIO DE JANEIRO Cinqüenta anos é a idade média em que mais de 200 mil trabalhadores brasileiros ficam inválidos no Brasil. De acordo com estudo inédito da professora e médica do trabalho Anadergh Barbosa-Branco, da Universidade de Brasília (UnB), com base nos números da Previdência Social, foram 228.058 casos em 2004, número 23% superior às 185.298 aposentadorias de 2003. Doenças cardíacas, as osteomusculares (problemas de coluna, de inflamação nos tendões e outros), as mentais (esquizofrenia, depressão) e os acidentes de trabalho são as principais causas encontradas no estudo.
Mesmo que não exista o reconhecimento da relação com o trabalho na esmagadora maioria dos casos, os trabalhadores desenvolvem doenças cardíacas, por exemplo, bem mais cedo. O trabalho tem um papel importante. O calor aumenta a pressão arterial, assim como o estresse, explica Anadergh.
Mas a preocupação principal, segundo a médica, são com as doenças osteomusculares e os acidentes. Nesses casos, a aposentadoria acontece mais cedo. Entre os homens, o abandono precoce do trabalho por problemas de coluna e outros similares acontece aos 47 anos, enquanto nos casos de lesões e envenenamento, a média cai para 45 anos.
CUSTOS Além do dano para o trabalhador, há o custo. Ele pára de contribuir 15 anos antes do previsto. Pelas contas da professora da UnB, o País gastou cerca de R$ 1,73 bilhão em 2004 para cobrir as aposentadorias por invalidez.
Muitas doenças que incapacitam o trabalhador não interferem no ciclo de vida. Além disso, com os casais optando por ter filhos mais tarde, a pensão continua sendo paga aos herdeiros até os 21 anos. É uma bola de neve do ponto de vista econômico alerta.
A coordenadora de Benefícios para Incapacidade do INSS, Teresa Cristina Santos Maltez, explica que essa alta de 23% de um ano para outro tem dois motivos principais. O primeiro é uma política adotada pelo Instituto de aposentar os trabalhadores que já estão há muito tempo em auxílio-doença:
Temos trabalhado nesse sentido. Depois de dois anos afastados do trabalho, estamos encaminhando para aposentadoria por invalidez, que pode ser revista a cada dois anos. Não fazia sentido manter o
trabalhador fazendo perícias repetidamente.
O segundo fator está ligado à falta de tratamento adequado de doenças crônicas, como as cardíacas. Muitas pessoas com doenças crônicas não têm acesso ao tratamento adequado no tempo certo. Isso acaba agravando o estado clínico e levando à aposentadoria precoce, diz Teresa.
Norma Souto, médica do trabalho da Previdência Social, afirma que as doenças que aparecem como as mais comuns são também as mais freqüentes na população em geral e que incapacitam para o trabalho: A hipertensão arterial controlada não afasta do trabalho, mas a falta de tratamento leva a doenças cardíacas, rensais, vasculares e aos derrames.
Para a médica, o que chama a atenção é que as doenças são possíveis de se prevenir ou controlar: Um bom sistema de saúde pública e educação para saúde poderiam amenizar a situação.
A cegueira incapacitou 5.585 trabalhadores em 2003. Situação vivida desde 1999 pelo petroleiro SÍlvio Carvalho Drumond, hoje com 52 anos. Um acidente na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio, levou a visão e as pontas dos dedos do operador de transferência e estocagem no dia 27 de julho de 1999. O acidente aconteceu no Parque de GLP.
Houve vazamento de gás e Drumond ligou o carro provocando a explosão: Não percebi o vazamento. A gente acaba se acostumando com o cheiro de gás. Havia um sensor de gás que não estava funcionando. Quando saí do carro, estava cercado por uma cortina de fogo.
A única saída foi passar por ela. Queimei 55% do corpo. Passei três meses e 16 dias no hospital e já fiz cinco cirurgias. Até hoje, vivo acompanhado o dia inteiro por enfermeira, conta Drumond.
Marcos do Amaral, diretor do Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias, afirma que o acidente de Drumond deixou traumas na equipe.
As pessoas ficam abaladas ao ver o colega assim. Temem voltar ao local. Deixa seqüelas graves.
Giampaolo di Donato, gerente-geral interino da Reduc, diz que depois de 99 não houve outro acidente dessa gravidade na Reduc. Em 99, houve 17 acidentes com afastamento. No ano passado, apenas dois. Investimos em treinamento e em equipamentos mais modernos que surgiram nesse período de detecção de vazamento, sensores de gás e mais automatização. Os procedimentos são checados e rechecados.