As discussões sobre privatização voltaram à cena durante o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O assunto foi repetido insistentemente durante toda a semana pelo candidato petista, que afirmava aos quatro cantos que o ex-governador de São Paulo iria vender as jóias da coroa, como a Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, caso vença a disputa.
Coube ao tucano desmentir as provocações para tentar acabar com o medo instaurado entre o funcionalismo público. Apesar disso, o mercado espera que um governo de Alckmin seja mais rigoroso em relação ao tamanho do Estado. Ainda há uma série de pequenas estatais que poderiam ser transferidas para a iniciativa privada sem prejuízos para a Nação, afirmam economistas.
Apesar de ser motivo de troca de farpas no meio político partidário, a maioria dos especialistas acredita que a venda de estatais seja a saída para um Estado que mal consegue investir em serviços prioritários para o País, como saúde e educação. Na avaliação do professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Roberto Arvate, a privatização não é ruim. Veja o caso da telefonia. No passado, conseguir uma linha telefônica era para poucos. Além de ser caro, a instalação levava anos.
Naquela época, quando o sistema era estatal, uma linha chegava a custar US$ 10 mil e a instalação demorava até seis anos. Hoje a instalação pode ser feita em questão de dias e não há mais a compra da linha, mas uma assinatura mensal - o que também é fator de discussão. Há protestos contra o pagamento dessa conta.
SucessoPara o historiador e financista americano, John Schulz, outra área em que a privatização foi um sucesso no Brasil é a siderurgia, referindo-se à venda da Companhia Vale do Rio Doce, que hoje é uma das maiores do mundo por causa do programa intenso de investimentos.
Na área de energia elétrica, a privatização ficou pela metade, lembra o especialista em contas públicas, Raul Velloso. O governo privatizou quase toda a distribuição, deixou a geração nas mãos do Estado e hoje tem dificuldade para investir na expansão. Na opinião dele, se não tiver nenhum impedimento, o ideal é transferir os ativos para o setor privado. Mas ele reconhece que há questões ideológicas envolvidas.
FalhaA primeira privatização brasileira, da Usiminas, ocorreu em 1991, no governo de Fernando Collor de Mello. O processo se intensificou na década de 90 entre o governo de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, envolvendo as áreas de energia, transportes, setor financeiro e siderurgia. A principal falha, no entanto, é que a privatização veio primeiro que a regulamentação dos setores, afirma Arvate. Mas em vários setores houve melhora dos serviços. As privatizações renderam aos cofres do governo cerca de R$ 60 bilhões.
Além da esfera federal, os governos estaduais também fizeram privatizações. A Companhia Energética de São Paulo (Cesp), por exemplo, foi desmembrada e vendida à americana Duke Energia. Outra parte manteve-se estatal, mas cheia de problemas e com uma dívida gigantesca. Mas há sempre rumores de que ela está sendo saneada para, em seguida, ser vendida à iniciativa privada.