A usina Alcídia, localizada na região do Pontal do Paranapanema (SP), será a base para o desenvolvimento do primeiro centro de produção integrada de açúcar e álcool que a Odebrecht pretende executar em sua atuação no setor sucroalcooleiro. "O potencial do Pontal é de 12 a 15 milhões de toneladas de cana", segundo Eduardo Carvalho, ex-presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) e empresário-parceiro da iniciativa da construtora. A expectativa é que esse potencial seja alcançado dentro de 8 a 10 anos.
No curto prazo, a companhia ampliará a capacidade de processamento de 1,3 milhão para 2,1 milhões de toneladas até 2009. Isso demandará um investimento de R$ 30 milhões, já previstos nos R$ 290 milhões para compra de 85% de participação na unidade. Os outros 15% permanecerão com o antigo controlador, Lamartine Navarro Neto.
Até 2012, a capacidade de moagem será duplicada, para 4,2 milhões. "Por conta do espaço disponível, a usina Alcídia já foi concebida para expansão", justificou Clayton Hygino de Miranda, que será o presidente da nova empresa da Odebrecht para atuar em açúcar e álcool, cujo nome ainda não foi definido. Para essa nova ampliação, ainda não há previsão de aporte.
Atualmente, a usina produz 65 milhões de litros de álcool e, aproximadamente, 75 mil toneladas de açúcar. Esses valores significam que o peso do açúcar na produção é de 30% e do etanol, de 70%, balanço que será mantido com as novas expansões. "O etanol, prioritariamente, vai abastecer o mercado interno, com possibilidade de exportação", afirmou Miranda. Segundo o executivo, a unidade tem contratos de venda de açúcar no exterior.
No horizonte de 10 anos, os executivos prevêem mais três ou quatro unidades de produção na região do Pontal para alcançar a meta de 12 a 15 milhões de toneladas de moagem de cana. "Alcídia será a base principal. A unidade existente otimiza os novos projetos, proporcionando sinergias", explicou Miranda. Segundo o executivo, a empresa trabalha em um plano de desenvolvimento para a região do Pontal. Inclusive, a Odebrecht já teria acordo para o plantio de cana em uma área de 40 mil hectares, necessária para as expansões iniciais previstas.
Além do centro integrado na região do Pontal do Paranapanema, a companhia também observa oportunidades em outros Estados, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná. A idéia é implantar novas usinas, mas os executivos não descartam novas compras. "Alguns processos estão em marcha", garantiu Carvalho.
De acordo com o executivo, a Odebrecht tem como meta estar entre as líderes de mercado dentro de 10 anos. Nas condições atuais, isso demandará uma capacidade instalada de 40 milhões de toneladas, patamar da líder Cosan. No período, a companhia estima investir R$ 5 bilhões para cumprir o plano estratégico. Desse volume, 60% serão financiados e 40% representarão capital próprio, revelou Miranda.
O executivo detalhou que nesta operação de compra da usina Alcídia, 100% dos recursos empregados são da Odebrecht. Poucos esperavam que a companhia anunciaria agora sua primeira compra no setor. Isso porque no evento realizado na última quarta-feira pela construtora para anunciar o seu ingresso no setor sucroalcooleiro, os executivos afirmaram que a operação seria fechada em 15 dias. "Queríamos surpreender", comentou, em tom de brincadeira, Carvalho.
A Alcídia é uma das pioneiras do projeto de incentivo à produção de álcool criado pelo governo federal na década de 70. Começou a moer em 1978, com a produção só de álcool. Passou a fabricar açúcar em 1994 e tem capacidade atual de moer 1,5 milhão de toneladas de cana. Uma peculiaridade da unidade industrial é a utilização da matéria-prima de mais de 400 famílias assentadas na região do Pontal do Paranapanema, além da cana dos proprietários.
As negociações para a compra do ativo tiveram início há dois meses, ainda quando Miranda e Carvalho comandavam a CZRE, empresa de participações criada para atrair fundos de investimentos para o setor sucroalcooleiro e para gerir as usinas. Com a incorporação da CZRE pela Odebrecht - com o seu ingresso nesse mercado - , as negociações passaram a ser conduzidas em nome da construtora.
Os planos da Odebrecht no setor sucroalcooleiro incluem, além da produção de açúcar e etanol, a geração de bioeletricidade, o desenvolvimento de projetos na área de logística e a comercialização dos produtos, inclusive no exterior.