A Bolsa de Valores de São Paulo ignorou Wall Street, onde o azul preponderou no mercado acionário ao longo do dia, e fechou em baixa na quarta-feira pelo segundo pregão seguido.
Investidores domésticos seguiram preocupados, a exemplo da véspera, com o crescimento global pressionando os preços das commodites. Além disso, tensões no cenário político interno começaram a incomodar e incentivaram a venda de papéis.
A Bovespa ampliou drasticamente as vendas depois que o Federal Reserve manteve o juro norte-americano em 5,25 por cento, conforme o esperado, e emitiu um comunicado sem grandes surpresas.
O principal indicador da bolsa paulista caía cerca de 0,45 por cento antes do Fed e chegou a ceder 2,6 por cento depois o anúncio, para abaixo dos 35 mil pontos. Houve alguma recuperação e o Ibovespa encerrou em queda de 1,92 por cento, a 35.196 pontos. O volume financeiro foi de 2,3 bilhões de reais.
"Obviamente, a decisão (do Fed) era esperada e o comunicado não sai muito do comunicado de 8 de agosto. Eles continuam dizendo que a economia desacelerou e que ao longo do tempo a inflação recuará, o que deixa as opções de política monetária abertas. As decisões serão tomadas com base nos dados econômicos", disse Hugh Johnson, vice-presidente de investimentos da Johnson Illington Advisors, em Nova York.
No comunicado, o banco central norte-americano deixou claro mais uma vez que ainda não tem confiança de que a economia está fora de um cenário inflacionário.
"Acho que o que estamos vendo aqui é realmente uma economia se enfraquecendo, liderada pelo setor imobiliário, e isso terá efeito dramático no Produto Interno Bruto no terceiro e no quarto trimestre deste ano e no próximo ano. Esse é um comunicado de desaceleração do crescimento em vez de (um comunicado) com temor de inflação", ponderou Michael Barron, presidente-executivo da Knott Capital, na Pennsylvania.
Em Wall Street, o Dow subiu 0,63 por cento e o Nasdaq avançou 1,37 por cento, com ajuda de lucros robustos do Morgan Stanley e da Oracle .
Na Bovespa, os dois carros-chefe, Petrobras e Vale, têm sofrido com o recuo dos preços do petróleo e de metais, além das indefinições sobre o imbróglio na Bolívia e a oferta pela mineradora canadense Inco, respectivamente.
As ações da Petrobras perderam 2,86 por cento, para 38,67 reais, e as da Vale cederam 2,74 por cento, a 37,64 reais.
Sete analistas ouvidos pela Reuters mencionaram ainda que especulações sobre o cenário político contribuíram para o movimento de vendas na Bovespa.
"É tudo questão de fluxo. Esse é o grande problema do mercado, que está sem tendência definida. O estrangeiro continua vendendo, em função de um possível desaquecimento da economia mundial. Os emergentes devem sofrer com isso", comentou Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
"Sempre tem os especuladores de plantão. Hoje temos um cenário político ruim e estrangeiros na venda. Aí ajuda a atrapalhar como um todo", complementou, referindo-se às tensões geradas pelo chamado "dossiê Serra" e um suposto envolvimento do PT a dez dias da votação.
O saldo de estrangeiros na bolsa paulista voltou a entrar no negativo em setembro, com a saída de 124 milhões de reais no dia 15. O déficit no mês está em 72,6 milhões de reais, elevando o saldo negativo no ano a aproximadamente 2,5 bilhões de reais. Desde maio, o fluxo tem sido negativo.
O destaque de alta da sessão foi novamente VCP, que disparou 4,9 por cento, a 38,50 reais, depois que o UBS elevou a recomendação do papel de "neutra" para "compra", seguindo o fechamento do acordo com a International Paper na véspera.
"Acreditamos que essa transação transformará a VCP em uma grande produtora de celulose, com capacidade de mais de 2 milhões de toneladas até 2009, e outra fábrica de 1 milhão de toneladas de celulose para iniciar operações até 2011", afirmou o banco em relatório.