O setor automobilístico, que foi um dos pilares da industrialização em São Paulo - o maior parque fabril do País -, consolida o movimento de desconcentração e já passa a puxar a produção em Estados sem tradição industrial. Em 2005, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), menos da metade (45,8%) dos veículos produzidos no País saiu das linha de montagem de São Paulo, Estado que concentrava 74,8% da produção 15 anos antes.
A perda de 29 pontos porcentuais na participação paulista ocorreu a despeito de o Estado ter praticamente dobrado o volume de carros produzidos no período, de 684 mil para 1,158 milhão. Ou seja, não foi bem São Paulo que perdeu, mas outros Estados é que passaram a ter fatias maiores do bolo. A indústria automobilística foi uma das que ocuparam os primeiros lugares na fila em busca dos benefícios oferecidos durante a guerra fiscal.
Em 1990, Minas Gerais (que abriga fábricas da Fiat, Mercedes-Benz e Iveco) tinha a segunda maior produção de veículos do País, com 24,5% do mercado. Uma participação residual de 0,7% era dividida pelo Paraná (Volkswagen) e Rio Grande do Sul (GM). No ano passado, Minas também perdeu participação relativa, enquanto Paraná e Bahia se destacaram com 12,6% e 9,8%, respectivamente. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro vêm a seguir, com 5,6% e 5,2%, enquanto Goiás tem produção marginal de 0,8%, com uma unidade da Mitsubishi.
A experiência da Ford na Bahia é a primeira incursão das montadoras pelo Nordeste e a mais recente etapa do êxodo automotivo. Inaugurada em outubro de 2001 no pólo de Camaçari, a fábrica já produz 250 mil veículos por ano, um a cada 80 segundos, diz a campanha promocional da empresa. Uma prova de que o negócio deu certo é que a Bahia deve ultrapassar o Paraná este ano em participação relativa.
Desempenho surpreendente para uma iniciativa que foi alvo de piadas na época do anúncio, do tipo que apresentava os modelos de carro com coqueiro solar e dez marchas, oito delas lenta. Esta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa mostrando que o Nordeste ganhou participação no Produto Interno Bruto (PIB) de 2003 para 2004, influenciado principalmente pela Bahia.
O processo de desconcentração industrial vem ocorrendo desde os anos 80 e com a indústria automobilística a partir dos 90. É mais caro montar uma fábrica no ABC do que na Bahia, comenta Isabela Nunes, do Departamento de Indústria do IBGE.