O vice-presidente uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, anunciou ontem que seu governo vai recorrer à Corte Internacional de Haia para denunciar os constantes piquetes que manifestantes argentinos fazem nas pontes que ligam os dois países. Além de Haia, o Uruguai pretende levar suas queixas sobre a Argentina ao Mercosul, cuja cúpula de presidentes está marcada para a segunda semana de dezembro em Brasília.
Os manifestantes argentinos e o governo do presidente Néstor Kirchner não querem a construção da fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia - maior investimento privado da história do Uruguai, no total de US$ 1,2 bilhão, que gerará milhares de empregos. A fábrica está sendo construída no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai, que divide os dois países.
Os argentinos da área da fronteira, liderados pela organização não-governamental Assembléia Popular de Gualeguaychú, dizem que farão, durante o verão, piquetes nas três pontes que ligam os países.
A central sindical uruguaia PIT-CNT anunciou que está planejando uma marcha de repúdio aos piquetes argentinos. O protesto, que a central sindical classifica de "defesa da soberania", também vai levantar as pressões constantes feitas pelo presidente argentino contra o Uruguai.
O anúncio da central sindical foi feito um dia depois que Kirchner aumentou o grau de tensão na "guerra da celulose" entre os dois países. Na véspera, Kirchner chamou o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, de "intransigente" por não ceder à exigência argentina de suspender as obras. Kirchner também criticou o Banco Mundial por ter liberado dois créditos para a Botnia, num total de US$ 520 milhões.
O Partido Colorado e o Partido Nacional (Blanco), de oposição no Uruguai, declararam seu respaldo a Tabaré e repudiaram as declarações de Kirchner. Uma pesquisa do jornal El Observador, de Montevidéu, mostra que 77,1% dos uruguaios rejeitam as afirmações de Kirchner sobre Tabaré por considerá-las ofensivas. Outros 11,7%, embora não as considerem ofensivas, não concordam com as declarações. Somente 11,2% dos pesquisados concordam com Kirchner.