Jorge Loyolla, mesmo imóvel em bairro nobre, prefere morar em Castelo Branco
Sistema de segurança, quatro quartos, garagem fechada para cinco carros e com planos para piscina, sala de cinema e ar-condicionado central em 140 m de sofisticação. Essa descrição, que parece sair diretamente de um comercial imobiliário de alto padrão, na verdade é da moradia do empresário Jorge Loyolla, 41 anos, em Castelo Branco.
Embora possua um sítio e um flat, o ex-carregador de compras decidiu transformar o andar em cima da casa onde cresceu, quando viu a renda multiplicar ao abrir a sua empresa imobiliária. Casos como o dele não são isolados. Os bairros populares possuem, cada vez mais, habitantes com renda mais elevada.
Um cruzamento de dados feito pelo Instituto Data Popular revelou que os moradores das periferias urbanas brasileiras consomem cerca de R$ 56 bilhões por ano (o equivalente ao Produto Interno Bruto da Bolívia e o triplo de dez anos atrás).
Na última década, a classe C passou de 45% para 66% nessas comunidades, conforme o levantamento. A média da escolaridade também subiu: de quatro para seis anos.
Opção - A vendedora Conceição Ribeiro reside no bairro de Plataforma há mais de 20 anos. "Amo morar na periferia. Eu me sinto em uma cidade do interior", diz.
Mesmo com condições de viver em área nobre, Conceição, cuja residência tem garagem para os três carros da família (um para cada membro), afirma que só se mudaria por conta do engarrafamento. "Levo quase duas horas para chegar no trabalho. Todo mundo tem carro agora", reclama.
O empresário Loyolla conta que até tentou morar no flat em Stella Maris, mas a distância e a "falta do calor humano" o levou, menos de dois anos depois, de volta à casa onde cresceu. "Apesar do preconceito que as pessoas têm, eu me sinto bem mais seguro aqui", conta ele.
Os fatores que influenciam esses moradores a continuarem nos bairros de origem quando ascendem economicamente variam. "Essas pessoas têm uma história nos seus bairros, uma raiz", diz o diretor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais, Gustavo Tessati.
O professor de geografia e urbanismo da Ufba, Ângelo Serpa, pesquisador de periferias urbanas, concorda: "A vida nos bairros populares é muito diferente da que há nos bairros de classe média". Lembrou que em áreas nobres as pessoas são mais isoladas entre si.
Ele ressalta que, além disso, esses moradores não necessitam sair do bairro para ter acesso a mais serviços. "Essas áreas estão se tornando mais complexas. A cidade possui cada vez mais subcentros comerciais", explica.
O mercado tradicional também começa a se inserir nessa realidade. "Antes, estes brasileiros eram invisíveis", diz o diretor do Data Popular, Renato Meirelles. Ele explica que o aumento do consumo se deu devido ao crescimento dos empregos formais, aliado a programas de distribuição de renda.