Roberto Ibrahim, presidente da CRA-BA, falou sobre a profissão
Neste ano, quando a profissão de administração completa o jubileu de ouro (50 anos) de regulamentada, o presidente do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA-BA), Roberto Ibrahim, em entrevista ao jornal A TARDE, fala sobre os avanços da profissão, mercado de trabalho e instituições de ensino superior que oferecem o curso. Com longa trajetória na profissão, Ibrahim administra, há 35 anos, microempresa no ramo da construção civil. Ele também é professor em curso superior de administração, há 39 anos. Para o veterano em administração, não existe profissão mais dinâmica e com tantas variáveis de atuação no mercado de trabalho que vão da empresarial, de recursos humanos, financeira, logística, entre muitas outras.
Passaram-se 50 anos desde a regulamentação da profissão. Como e quando o curso de administração foi implantado no Brasil?
Para ser exato, a regulamentação saiu em nove de setembro de 1965. Estamos comemorando este ano o jubileu com muita alegria. A administração pode ser considerada uma das profissões mais antigas do país e ainda é uma das mais preferidas por estudantes. Antes de ser regulamentada aqui, nos EUA já existia, no final do século XIX, a Wharton School, que ofertava os primeiros cursos superiores de administração do mundo, com grande influência do período pós-revolução industrial. Aqui no Brasil foi em 1952 que o primeiro curso, criado pelo governo federal, surgiu e deu origem à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Depois tivemos a estatal Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp) e hoje já são centenas escolas.
E hoje, como está a profissão no Brasil? Como está o mercado de trabalho?
Tem muita área de atuação para o administrador. A profissão é muito boa, dá para atuar em qualquer segmento, é bem diversa. Basta considerar que o Brasil precisa investir muito ainda em infraestrutura. Temos hoje 1,5 milhão de quilômetros em estradas e apenas 220 mil quilômetros estão asfaltados. O Brasil é um país rodoviário! Imagine na parte de portos, ferrovias, aeroportos, todos que precisam muito de investimentos, de novas obras. O administrador atua em todos eles, principalmente quem segue na área de logística, hoje em alta e com grande demanda de mercado.
Em relação às áreas de atuação, além de logística, quantas e quais são?
A profissão de administração tem suas peculiaridades. Hoje o conselho estima 220 habilitações diferentes, como em marketing, área pessoal, governamental, financeira, administração de condomínios, que cresceu muito, logística, como falamos, que é fundamental para o crescimento e desenvolvimento do país, para a infraestrutura. As pequenas e microempresas também são ótimas opções no Brasil, tem muito espaço e tem o Sebrae, que está ajudando muito nisso, com o MEI, capacitação, cursos. Temos, por exemplo, o empreendedorismo na área de alimentos, como os food trucks. Grandes restaurantes já apostam nisso. Tem muita área, muito campo de atuação. Mas faltam orientação e criatividade nos nossos profissionais para investirem no empreendedorismo, embora note que isso está mudando. A faculdade tem um importante papel nesse sentido, precisa preparar melhor os estudantes. Mas ainda há, e muito forte, uma crise de gestão, falta de uso de recursos materiais, humanos. Temos muitas obras mal geridas. Por isso tudo é fundamental investir na formação superior, na consciência, de orientar o estudante. O Brasil precisa formar pessoas de nível universitário em todas as áreas, e administração é um curso ainda muito preferido por causa do grau de variabilidade.
Já que falou sobre as instituições de ensino, como avalia as faculdades que existem na Bahia? E os cursos de graduação a distância, os EADs?
Vivenciamos há três anos uma revolução no ensino da Bahia. Um dos processos de infusão, com as empresas internacionais de educação, como a Rede Ilumno, DeVry Brasil, que administram algumas IES baianas, elas têm uma estrutura de formação muito boa, estimulam os estudantes, orientam a projetar suas carreiras ainda na faculdade, além da experiência internacional, do idioma, por exemplo, essencial nos dias de hoje para qualquer profissão. Mas as faculdades independentes também têm seu valor: Faculdade Social da Bahia (Fsba), Castro Alves, Unirb, entre outras, são muito boas também. Percebo que as IES estão se adaptando à nova realidade de ensino, do estudante e suas necessidades. Precisamos de diferencial competitivo, qualificação em tecnologia. Aconselho a quem vai fazer vestibular que pesquise bem a instituição. Claro que o estudante tem muita responsabilidade no seu processo de aprendizado e formação de carreira, mas se une isso a uma boa faculdade, que o prepare para o mercado, o resultado é melhor ainda! Temos uma média de mais escola de administração no interior do estado do que na capital. São muitas instituições boas. A que tirou as melhores médias de curso no MEC, por exemplo, foi uma faculdade de Paripiranga, no sertão da Bahia. Quanto ao ensino a distância, é outra opção. São cursos reconhecidos pelo MEC, em sua modalidade, mas, assim como nos cursos presenciais, o estudante tem de ter um grande cuidado, pesquisar se a IES é reconhecida e autorizada pelo MEC; se não for, os diplomas não terão validade e o estudante não poderá ser registrado no conselho e, consequentemente, não poderá exercer a profissão.
Qual a média salarial de um recém-formado e como o profissional deve investir na carreira para ter êxito? Quanto tempo dura o curso de graduação?
Os ganhos variam para cada área de atuação. Mas a média para recém-formado é de R$ 2,7 mil. Tem estados que pagam mais, acima de R$ 3,5 mil, como no Sul e Sudeste. Mas o ganho depende muito da competência de cada um. Pelo código de ética, o trabalhador não pode se submeter a subemprego, a qualquer salário; se fizer isso, ele contribui para desvalorizar a profissão. Todos precisam ter essa consciência. O curso dura quatro anos, mas o estudante não pode se limitar à graduação, que deve ser só a porta de entrada. O ideal é seguir estudando, se especializando. Temos 20 mil mestres e mais de dois mil doutores. Na Bahia, todo ano, colocamos 1.200 administradores no mercado. No total, são mais de 40 mil profissionais formados, sendo que 25 mil são registrados. Os demais são formados em outras áreas e não precisam ter registro em dois conselhos.